quarta-feira, 31 de agosto de 2011

De Janeiro a Janeiro


Não consigo olhar no fundo dos seus olhos
E enxergar as coisas que me deixam no ar,deixam no ar
As várias fases, estações que me levam com o vento
E o pensamento bem devagar...
Outra vez, eu tive que fugir
Eu tive que correr, pra não me entregar
As loucuras que me levam até você
Me fazem esquecer, que eu não posso chorar
Olhe bem no fundo dos meus olhos
E sinta a emoção que nascerá quando você me olhar
O universo conspira a nosso favor
A conseqüência do destino é o amor, pra sempre vou te amar
Mas talvez, você não entenda
Essa coisa de fazer o mundo acreditar
Que meu amor, não será passageiro
Te amarei de Janeiro á janeiro
Até o mundo acabar...

Roberta Campos

Mandala e Yantras


Mandala é uma palavra sânscrita, que significa círculo. Mandala também possui outros significados, como círculo mágico ou concentração de energia. Universalmente a mandala é o símbolo da totalidade, da integração e da harmonia Em várias épocas e culturas, a mandala foi usada como expressão científica, artística e religiosa. Podemos ver mandalas na arte rupestre, no símbolo chinês do Yin e Yang, nos yantras indianos, nas mandalas e thankas tibetanas, nas rosáceas da Catedral de Chartres, nas danças circulares, nos rituais de cura e arte indígenas, na alquimia, na magia, nos escritos herméticos e na arte sacra dos séculos XVI, VII e XVIII.

A forma mandálica pode ser encontrada em todo início, na Terra e no Cosmo: a célula, o embrião, as sementes, o caule das árvores, as flores, os cristais, as conchas, as estrelas, os planetas, o Sol, a Lua, as nebulosas, as galáxias. Se observarmos o cotidiano a nossa volta, perceberemos estruturas mandálicas onde nunca pensaríamos haver, como no gostoso pãozinho ou no macarrão que comemos: começam com a massa que depois de amassada vira uma bola – mandala tridimensional – para crescer. O prato onde comemos tem a forma circular, e quando nos servimos formamos uma mandala colorida, que irá nos alimentar e nos nutrir, dando energia e vitalidade ao nosso corpo. A própria Terra foi formada por uma explosão de forma mandálica. Para que serve a Mandala - A mandala pode ser utilizada na decoração de ambientes, na arquitetura, ou como instrumento para o desenvolvimento pessoal e espiritual. A mandala pode restabelecer a saúde interior e exterior. Podemos usar uma mandala para a cura emocional, que refletirá positivamente em nosso estado físico, e assim ficaremos com mais saúde e vigor. Também podemos utilizar uma mandala para a cura de ambientes, como o familiar e o de trabalho, ou para preparar um espaço especial, onde você irá meditar ou fazer sessões de cura, como massagem, Reiki, astrológica, psicoterápica, atendimento clínico. As mandalas Kalachakra, abaixo e Sri Yantra (veja o Álbum) são exemplos de mandalas usadas para meditação e contemplação espiritual-religiosa, a primeira no budismo tibetano e a segunda no hinduismo. A catedral de Brasília, assim como outras catedrais, usa a mandala para criar um ambiente sagrado e especial, muitos templos usam a geometria sagrada e a forma circular para fazerem suas construções e, assim, formarem uma aura protetora e especial no lugar.

Os budistas construíram as famosas Stupas, que são lugares consagrados à oração. Dentro delas há relíquias de mestres iluminados, orações, pedras especiais e outros apetrechos sagrados. Elas possuem forma mandálica e os seguidores as reverenciam. Também é pratica dentro do budismo a oferenda de mandalas para divindades.

Na arte podemos ver as mandalas retratadas de várias formas, nas abobadas das grandes
catedrais européias, nos vitrais de Chartres, nas auréolas dos santos, em pratos e porcelanas chinesas e gregas, na arte indígena e rupestre.

Atualmente muitos artistas pintam e desenham lindas mandalas decorativas para comporem ambientes.

Também a astrologia utiliza a forma mandálica para diagramar o zodíaco. O diagrama astrológico contém doze setores de 30 graus cada um, onde estão colocados os signos do zodíaco e que correspondem às doze constelações de estrelas fixas, as quais conservam até hoje o mesmo nome que na Antigüidade: Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário, e terminando a Mandala Astrológica por Peixes. Quando o astrólogo faz a leitura de um mapa natal ou mapa astral, percorre cada um desses setores que são regidos pelos planetas Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão, correspondentes às casas onde ocorrem as experiências da vida. Vamos encontrar várias mandalas feitas pelos alquimistas com o tema da astrologia, principalmente nos séculos XVI a XVIII.

COMO ATUA O TRABALHO COM MANDALA

A mandala trabalha os seguintes aspectos pessoais: físico, emocional e energético. No aspecto físico, promove-se o bem-estar, o relaxamento e a prevenção do estresse. Emocionalmente, pode trabalhar conteúdos oriundos de emoções antigas, atuais ou futuras, pois sinaliza aqueles que irão emergir. Neste trabalho (mandalas pessoais), é muito comum surgirem traumas passados, que são colocados no desenho de forma sutil, só percebidos por quem souber fazer a leitura do que está sendo sinalizado. Esta leitura se faz por meio do traço, da forma, das cores, dos símbolos e de vários outros aspectos que aparecem quando se desenha uma mandala pessoal.

Qualquer pessoa pode se conhecer e se trabalhar com mandalas, tanto com a ajuda de um terapeuta, quanto sozinho. A pessoa pode fazê-lo confeccionando e colorindo mandalas, ou, ainda, meditando com elas. A mandala irá colocar, de forma sutil, no lugar certo aquilo que se encontra fora de lugar, Jung diz que “A mandala possui uma eficácia dupla: conservar a ordem psíquica se ela já existe; restabelecê-la, se desapareceu. Nesse último caso, exerce uma função estimulante e criadora.”

No aspecto energético, a mandala ativa, energiza e irradia, podendo harmonizar ambientes físico ou pessoal carregados negativamente, ou aura de sofrimento e tristeza. Ainda energeticamente, a mandala pode levar a pessoa a contatos com dimensões supraconscientes e ao encontro de um caminho espiritual. Neste sentido, a mandala foi, e ainda é, muito utilizada para a meditação e para o desenvolvimento e a ampliação da consciência. No budismo tibetano os monges fazem-na de areia para depois serem ofertadas às divindades.

É importante saber que para qualquer finalidade que se queira alcançar trabalhando com mandalas tem de se desenvolver a perseverança, a persistência e a força de vontade. Trabalhar com mandalas é uma forma carinhosa de abrir o coração para a criatividade, a intuição e o amor.

O QUE SE GANHA TRABALHANDO COM MANDALAS

A pessoa que trabalha com mandalas, sozinha ou com a ajuda de um terapeuta, beneficia-se de várias formas:

- prevenindo o estresse;
- preservando e organizando a saúde psíquica;
- aumentando a capacidade de atenção e de concentração;
- aumentando a capacidade de receptividade;
- aumentando a harmonia, a calma e a paz interior;
- aumentando a criatividade;
- ampliando a consciência;
- desenvolvendo o Eu Superior;
- encontrando um caminho espiritual.

YANTRA

Yantra literalmente significa assomar, instrumento ou maquina. Na atualidade, um yantra é uma representação simbólica do aspecto de uma divindade, normalmente a Deusa Mãe ou Durga. Ele é uma matriz interconectada de figuras geométricas, círculos, triângulos e padrões florais que formam um padrão fractal de elegância e beleza. Embora desenhado em duas dimensões, um yantra deve representar um objeto sagrado tri-dimensional. Os yantras Tri-dimensionais estão se tornando incrivelmente comuns. Embora o yantra seja uma ferramenta usada na meditação por ambos sérios pesquisadores espirituais e escultores da tradição clássica, sua shakti é também disponível para pesquisadores iniciantes com sincera devoção e boas intenções. Acredita-se que yantras místicos revelam a base interna das formas do universo. A função dos Yantras é ser símbolo de revelação das verdades cósmicas.

Os Yantras são desenhos geométricos de origem indiana, conhecido também como Mandala na região do Tibet. O simples ato de fixar os olhos em seu ponto central (bindu) auxilia na indução para a meditação produzindo paz interior e principalmente promover insight para os momentos especiais, onde só o nosso interior tem a resposta. O uso destes diagramas mágicos é o caminho mais curto para aderir o princípio energético vibratório das formas e das cores que irão atuar no inconsciente produzindo um fluxo de ação.
Como usar os Yantras?

A forma de utilizar o Yantra é colocá-lo numa moldura do tamanho de uma folha A4 no mínimo e pendurá-lo a uma distância de 30 centímetros à frente do rosto. E na posição sentada (preferencialmente na posição de lótus) fixar os olhos no ponto central (bindu) do desenho sem piscar e sem pensar em nada, deixando os pensamentos pararem e absorver o silêncio interno; através de uma respiração continua e suave, os olhos devem ficar abertos até que lacrimeje, apenas contemplando e aos poucos na medida em que ocorre a prática alcançará o tempo almejado de cada yantra. Passando a usufruir dos efeitos de cada forma e cor recebendo o fluxo vibratório desejado. Ao iniciar o lacrimejamento e sentindo necessidade; feche os olhos e deixe a imagem desaparecer. Poderá usufruir de um incenso, de uma música new age em ambiente calmo e de preferência reservado para essa prática. Após o uso pendure o Yantra na parede do quarto.

Solidão


Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo... Isto é carência.

Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar... Isto é saudade.

Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos... Isto é equilíbrio.

Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma.

Chico Buarque

terça-feira, 30 de agosto de 2011

O Lado Obscuro de cada um de Nós


Passou no seu casamento por aquilo que é quase um facto universal - os indivíduos são diferentes uns dos outros. Basicamente, constituem um para o outro um enigma indecifrável. Nunca existe acordo total. Se cometeu algum erro, esse erro consistiu em ter-se esforçado demasiadamente por compreender totalmente a sua mulher e por não ter contado com o facto de, no fundo, as pessoas não quererem saber que segredos estão adormecidos na sua alma. Quando nos esforçamos demasiado por penetrar noutra pessoa, descobrimos que a impelimos para uma posição defensiva e que ela cria resistências porque, nos nossos esforços para penetrar e compreender, ela sente-se forçada a examinar aquelas coisas em si mesma que não desejava examinar. Toda a gente tem o seu lado obscuro que - desde que tudo corra bem - é preferível não conhecer.
Mas isto não é erro seu. É uma verdade humana universal que é indubitavelmente verdadeira, mesmo que haja imensas pessoas que lhe garantam desejar saber tudo delas próprias. É muito provável que a sua mulher tivesse muitos pensamentos e sentimentos que a tornassem desconfortável e que ela desejava ocultar de si mesma. Isto é simplesmente humano. É também por este motivo que tantas pessoas idosas se refugiam na própria solidão, onde não serão incomodadas. E é sempre sobre coisas de que elas não desejariam estar muito cientes. O senhor não é, obviamente, responsável pela existência destes conteúdos psíquicos. Se, apesar disto, ainda for atormentado por sentimentos de culpa, reflicta então sobre os pecados que não cometeu e que gostaria de ter cometido. Isto poderá eventualmente curá-lo dos seus sentimentos de culpa relativamente à sua mulher.

Carl Jung, in 'Cartas'

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Em busca da fórmula do amor


Psicólogo representa em número as relações saudáveis e as inadequadas

Texto:

A soma ideal deve preservar as duas partes e criar mais uma: o amor
Se fosse uma ciência, o amor dificilmente estaria no campo das exatas. Mas para o psicólogo e pedagogo Dirceu Moreira, as relações amorosas podem sim ser traduzidas em números. Em seu novíssimo livro “A Matemática do Amor” (Wak Editora, 160 páginas), o autor joga um pouco de razão nesse papo de relacionamento. O resultado é um manual interessante que lista cinco variações de dinânicas entre casais. Veja quais são elas e torça para a sua somar “1+1+1”.

½+½ = ½
Como mostram os números, essa operação tem duas metades que não se juntam. Ela representa os casais formados por parceiros distanciados – um não acrescenta nada na vida do outro. Trata-se das relações mornas e semifelizes. “Neste tipo de relacionamento, os dois cederam, porém o curioso é que não se somaram”, avalia Moreira. O risco, segundo o autor, é de uma explosão inesperada de um dos lados.

1+½ = 1
Nessa conta um dos lados se sente superior ao outro, seja intelectualmente ou financeiramente, e subjuga a outra parte. O submisso, no entanto, não é totalmente vítima, ele aceita ser anulado, mas pode virar o jogo de alguma forma. “Este tipo de relacionamento pode levar a uma traição, uma forma inadequada de buscar o amor”, esclarece Moreira.

1+1 = 1
Simbiose é a marca dessa relação. Um parceiro não faz nada sem o outro, e, dessa forma, os pares ficam dependentes e perdem a individualidade – e a graça, convenhamos. Nesse caso, a parte mais frágil tende a se deixar levar pela mais forte, copiando gostos e costumes. O medo de perder a cara-metade é latente. “Aquele que foi anulado pode ter uma atitude de isolamento e até mesmo de depressão, se afastando de amigos e familiares”, conta Moreira, dizendo que é muito comum essas pessoas ficarem perdidas quando a relação acaba.

1+1 = 1+1
“Parceiros” não é o termo mais correto para representar esse tipo de casal, já que eles vivem em competição. De acordo com Moreira, uniões “1+1” são muito frequentes atualmente. Devido ao individualismo exacerbado, muitas pessoas são incapazes de compartilhar na vida a dois – e isso pode ser notado principalmente no campo financeiro. Se insistirem na dinâmica, o destino tratará de oficializar a separação que já existe.

Conselhos para um casamento feliz
1+1 =1+1+1
Calma, nem todas as uniões são negativas. Essa operação representa os casais que têm parceiros mais realistas, que aprenderam com o que viveram no passado e que conseguem projetar um futuro em conjunto. Os dois crescem juntos com reciprocidade de sentimentos, conseguindo conquistar o terceiro elemento da equação, o amor. Moreira conta que passar pelas situações anteriores pode fazer parte do caminho em busca de uma relação mais saudável. Não perca a esperança!

Qual tipo de equação representa a fase atual do seu relacionamento? Deixe o seu comentário!

“A Matemática do Amor” - Dirceu Moreira

A crônica de um mundo que se partiu (Quando Hollywood encontra Freud)


A crônica de um mundo que se partiu

Por Maria Maia

Um filme sobre a esquizofrenia de nosso tempo. Assim é Clube da Luta. Rápido e nervoso, com diálogos ágeis e eficazes, o filme testemunha a queda de um mundo que se partiu arrastando o sujeito que nele se via preso. Jack, um burocrata yuppie sacrifica sua vida em um escritório onde ganha rios de dinheiro que o levam a construir um mundo vazio. E a vivê-lo. A insônia, que lhe rouba não apenas o sono, mas os sonhos, aparece como um primeiro sintoma, não de sua doença, mas de sua saúde. É um sintoma de que aquilo que é vivo e ainda pulsa nele não suporta mais a falta de sentido de um mundo em que o ser sucumbiu sob o peso do ter.

A temática aqui, e a solução final – um mundo que explode, literalmente – remetem a Zabriskie Point, de Antonioni, que, com soluções estéticas diametralmente opostas fez, em 1969, a crônica do mundo esvaziado pelas coisas. David Fincher, no seu Clube da Luta não usa o tom de calmaria desértica que Antonioni genialmente imprimiu a Zabriskie Point. Ao contrário, situa sua história numa cidade febril e se utiliza de todos os clichês com os quais o cinemão americano inunda e polui as telas mundo afora: violência, ação, espetáculo, catástrofe e astros ( Brad Pitt, está magnífico como a desencantada e violenta metade do anti-herói do filme ). Mas Fincher se apropria destes elementos para fazer uma das mais contundentes críticas, não só do cinemão, mas da própria sociedade americana.

O trabalho, na grande companhia americana, só ajudou Jack a tecer a doença em que se entranha. O transformou em um ser enredado nas malhas do consumo, escravizado pela abundância que a sua ultra desenvolvida e rica sociedade lhe permite, ou melhor, lhe impõe, compulsoriamente. Para obturar o vazio existencial, procura escatologicamente o sentido da vida na dor real do outro em volta. Começa a frequentar círculos de auto-ajuda para pessoas desesperadas, doentes terminais, alcoólatras, drogados, seres muito perto da morte, para os quais o mundo confortável e artificial do consumo já não pode fazer o menor sentido. Em cada um destes lugares nosso herói assume um nome diferente: Cornelius, Ruppert, etc. Ancorado na insuportável dor do outro ele encontra alívio e volta a dormir.

O apartamento de Jack é uma metáfora do universo onde repousam ou enlouquecem os consumidores modernos – anti-seres, crias legítimas do brutal capitalismo, para seu deleite e perpetuação: repleto de aparelhos domésticos de última geração, objetos de decoração superdescolados e outras inutilidades, que a propaganda teima em fazer necessários e vitais para o “incluído” moderno. Templo dos desejos de consumo o apartamento foi montado, peça a peça, com o rito cotidiano de entrega – via trabalho – da alma do jovem yuppie ao grande diabo capitalista. De fato, a companhia em que trabalha é mestra em falcatruas e entrega peças adulteradas aos consumidores, mesmo que isto signifique a morte de outros…. consumidores.

Este mundo “confortável” se rompe violentamente no filme arrastando o nosso herói: a certa altura da vida vazia e preenchida por milhares de objetos inúteis, sua alma atormentada pela insônia se parte em duas. Sucumbe à esquizofrenia. Grande sacada do roteiro. A esquizofrenia é precisamente uma doença mental fruto da perda de contato vital com a realidade. É que a realidade em que ele vive, não oferece mesmo nenhuma chance para o sujeito estabelecer contato vital com nada, a não ser com objetos e coisas. Então no seu caso, paradoxalmente, sua doença é sua saúde. Ele não pode mais seguir concordando em fazer parte de um mundo em que o ser é obrigado a “viver” ilhado em meio às coisas. Em que o ser é primordialmente destituído da condição de ser.

A queda na loucura se dá em pleno vôo, quando conhece mais um daqueles “amigos descartáveis” que as pessoas conhecem nos vôos, mundo globalizado afora. Amizades que estão fadadas a durar o tempo dos vôos. Tão breve quanto a satisfação que as coisas do universo do consumo são capazes de oferecer.

Ao chegar de viagem em casa, Jack assiste atônito a queda de seu mundo. A mesa de design ying e yang e todos os seus “preciosos” objetos, que eram até então o centro de sua vida, estão em chamas. Resolve então ligar para seu novo amigo descartável. Sem saber bem porque, sente que aquela estranha criatura, Tyler Durden, é a sua tábua de salvação.

Tyler é a antítese do burocrata yuppie. Cínico, cético, sarcástico e obsceno, renunciou à racionalidade esquizóide do capitalismo: leva a vida a fazer pequenas sabotagens na vida “confortável” das pessoas: garçon, faz xixi no prato que serve; montador de filmes, coloca pequenas e imperceptíveis ( conscientemente) inserções de cenas pornográficas nos filmes; fabrica sabonete com gordura roubada de uma clínica de lipoaspiração. E por aí vai errando …

O errante induz o burocrata a aceitar ajuda e morar com ele. E o convence a fazer algo muito estranho. Pede que lhe bata. Que lhe bata o mais forte que puder. A afetividade neste mundo esquizóide só se manifesta por seus signos contrários. O único contato humano possível é o soco.

Os socos que trocam, por prazer e querer, instauram entre eles uma forte amizade e estabelecem uma estranha cumplicidade. O burocrata idolatra o errante. Docilmente vai se deixando dominar por ele. Resolvem criar o clube da luta, esquisita sociedade cuja regra número um é não falar do que se passa nela com ninguém. E o que se passa nela é muita luta. Mas luta leal, corpo a corpo, dois a dois, sem objetivo nenhum de vitória. Os perdedores, que a América tanto abomina, talvez façam ali algum sentido. Descobrem que a grandiosa e vitoriosa América está coalhada deles. Servindo em bares, conduzindo ônibus e taxis, fazendo os pequenos e ordinários serviços. E o clube da luta cresce e avança por toda a parte, pregando o caos. Crescendo entre seres desesperançados e revoltados.

Jack agora mora na casa-ruína do errante. Nada funcional, tudo é precário e contrário ao mundo em que vivia antes. Mas dali, daquele novo mundo, que como dizia Freud, “o louco constrói sobre as ruínas do ego que ruiu”, ele pode enfim se encontrar – mesmo que sob o impacto da violência, do choque físico mesmo – com seu duplo. E descobre estupefato que seu duplo é ele próprio. A parte recalcada de si mesmo, seu centro vital.

Mas não há lugar para encontro com a vida nestes tempos de morte.

Quando Hollywood encontra Freud

Por Edílson Saçashima

Sigmund Freud, o pai da psicanálise, teve suas idéias transpostas para as telas por grandes cineastas como Luis Buñuel, Ingmar Bergman, Woody Allen e Stanley Kubrick, só para citar os principais. Curiosamente, Hollywood, a meca do cinema, sempre teve dificuldades em lidar com as idéias freudianas sem cair em reducionismos baratos ou estereótipos. Talvez o único representante hollywoodiano que tenha se saído melhor seja Alfred Hitchcock. Mas David Fincher está disposto a romper essa tradição.

Clube da Luta, seu mais recente filme, toma diversos conceitos psicanalíticos para desenvolver um enredo ligeiro e em ritmo de videoclip. Edward Norton é um executivo de trinta anos que está passando por uma terrível crise de insônia. Para se livrar dela, ele passa a freqüentar uma série de grupos de auto-ajuda, mas sem obter resultados. Sua vida irá mudar quando encontra Tyler Durden (Brad Pitt), um vendedor de sabonete. Ele representa uma válvula de escape para o personagem sem nome interpretado por Norton. O relacionamento entre eles vai se estreitando, principalmente após o aparta-mento de Norton ir pelos ares. Os dois então montam o “Clube da Luta”, nome dado às reuniões noturnas em que homens de todas as idades e classes sociais se digladiam até a exaustão. O clube vai ganhando dimensões gigantescas até se tornar uma organização terrorista.

Talvez aqui esteja a relação alardeada pela crítica entre o filme de David Fincher e Laranja Mecânica, o clássico de Stanley Kubrick. Os dois filmes mostram a explosão da violência como válvula de escape para o recalque provocado pela sociedade. Cada um a seu modo, representaria releituras do ensaio de Freud intitulado O Mal-Estar da Civilização.

No entanto, a comparação pára por aí. Enquanto Kubrick esmiuça essa relação, Clube da Luta apresenta outras idéias freudianas. A principal delas, e que é o segredo do filme, é a idéia do subconsciente. O personagem de Norton é a representação do consciente, do lado racional do ser humano. Repressor, ele é a voz da moral. Já Tyler Durden é o subconsciente, a voz do instinto, sem amarras. Talvez o melhor exemplo dessa distinção esteja na relação dos dois com Marla Singer (Helena Bonham Carter).

Enquanto que o primeiro a trata com frieza médica – como na cena em que Norton procura um caroço nos seios de Marla para constatar câncer de mama -, Tyler é absolutamente passional, tanto que é um verdadeiro garanhão na cama. A própria descrição de Tyler feita por Norton reforça a sua imagem de subconsciente. Tyler é responsável pela montagem de filmes a serem exibidos nos cinemas.

No entanto, ele não faz seu trabalho de forma convencional: entre uma cena e outra de Chapeuzinho Vermelho, ele encaixa fotogramas de genitais masculinos. Essa é uma clara metáfora sobre o subconsciente e seu papel nos sonhos. “Enquanto todos dormem, ele trabalha”, diz o personagem de Norton. Assim, o cinema seria comparável ao sonho e Tyler, ao subconsciente.

Na teoria psicanalítica freudiana, o sonho seria o meio encontrado para o subconsciente se expressar. Além disso, o sexo e suas representações são o pilar fundamental de todas as neuroses e problemas psiquiátricos do ser humano. Esse conceito foi transposto para a tela de cinema nas mãos de David Fincher.

As referências à Freud são inúmeras mas a diretriz principal seguida pelo filme é a dualidade do ser humano, idéia chave para saborear o filme e seu final inusitado.Para quem aprendeu a gostar de Fincher com Seven também não tem do que se queixar. Em sua filmografia modesta (quatro longas de ficção até agora), o cineasta vem desenvolvendo um mesmo tema de forma criativa. Em seus filmes, Fincher lida com o lúdico relacionado a vida e, consequentemente, a morte. Em Alien 3, esse tema estava presente na perseguição entre o alien e os humanos, que tentavam encurralar o monstro nos corredores da estação orbital.

Em Seven, a série de assassinatos pode ser visto como uma atividade lúdica do criminoso. Em Vidas em Jogo, o protagonista encarnado por Michael Douglas é literalmente peça de um jogo. Em todos esses filmes, o que está em jogo é a própria existência dos protagonistas e, consequen-temente, do homem. Essa atividade lúdica também está presente em Clube da Luta e se verifica na forma como o personagem de Norton imagina Tyler Durden e se relaciona com ele.

Se a idéia de jogo da vida é tema recorrente nos filmes de Fincher, os protagonistas de seus filmes são peças decisivos para indicar a vitória ou não da “partida”. Para Fincher, as regras são claras e paradoxais: ganha aquele que perder. Ou seja, em Alien 3, a tenente Ripley (Sigourney Weaver) derrota o alien, que está encubado no ventre dela, porque ela comete suicídio. Em Seven, a morte do assassino representa a vitória dele no jogo que ele próprio montou , enquanto que o personagem de Brad Pitt, que se imaginava isento desse jogo macabro, é responsável pelo triunfo do criminoso ao matá-lo.

Em Vidas em Jogo, o jogo chega ao fim quando Michael Douglas tenta o suicídio e, com isso, ele sai renovado, um novo homem. Já em Clube da Luta…De todos os ângulos, Clube da Luta representa um filme peculiar na atual safra de filmes de Hollywood. Sinal de que nem tudo está perdido lá pelas bandas da Califórnia.

Violência e Imagens do Pai no Cinema Contemporâneo

(com comentário sobre os filmes “Matrix” e “Clube de Luta”)

(Fonte: http://www.intercom.org.br/papers/xxiii-ci/gt01/gt01a5.pdf)

Prof. João Angelo Fantini: Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Professor Assistente da Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia da Universidade Federal de Goiás

Resumo
A violência exibida nos meios de comunicação e os seus eventuais efeitos sobre o comportamento das pessoas talvez se torne um dos temas mais debatidos nesta passagem de século, o que pode ter implicações perigosas, entre outras coisas, para a liberdade de criação e principalmente para a exibição das obras. O cinema, como outros produtos culturais, pode talvez nos dar pistas das origens desta violência, enquanto objeto criado por sujeitos produtores e receptores desta mesma cultura, cada dia mais influenciada mutuamente pelos diferentes grupos na sociedade globalizada. A psicanálise, desde a sua origem, volta-se a esses sintomas culturais e pretende também, como outras áreas do saber, dar sua contribuição ao debate.

Neste trabalho pretendo aludir especificamente o que considero um desses sintomas culturais encontrados no cinema, qual seja, a forma como a figura do pai é apresentada e de algumas relações possíveis desta figura com a lei simbólica eviolência apresentada em algumas produções recentes. Palavras-chave: Violência ­ Cinema – Psicanálise

A discussão a respeito da violência que se mostra nos meios de comunicação e dos seus eventuais efeitos é possível que se torne um dos temas mais debatidos nesta passagem de século, o que pode ter implicações perigosas para a liberdade de criação e principalmente na exibição das obras, onde a reprodutividade e o imperativo da mídia de massa não podem mais serdescartados, em parte, como elementos constituintes do processo criativo.

A mudança gradativa especialmente a partir do século XIX na família e na sociedade em relação ao lugar simbólico do pai nos parece um dos elementos importantes em vários aspectos do comportamento humano, entre eles as formas como a agressividade e a violência tem sido apresentadas nas diversos produtos da cultura.

Freud, para Elisabeth Roudinesco, foi talvez o grande teorizador da proibição e da culpa ao defender que quando um comportamento deixa de ser punido com a lei social segue-se um aumento da proibição psíquica e que a proibição internalizada seria o único contrapeso possível para a decadência da antiga autoridade paterna, segundo Roudinesco necessária “para o advento das sociedades modernas” (1998:374).

Para os objetivos deste trabalho nos limitaremos a tentar mostrar alguns elementos que nos parecem indicativos, ao menos de uma leitura psicanalítica, deste processo de mudança, especialmente em relação à exibição da agressividade como violência nos meios de comunicação e de como o cinema pode apresentar esse confronto entre a ausência da lei social e a Nome-do-Pai, no processo dessa proibição internalizada.

De início, no entanto, nos deparamos com um universo midiático onde se encontram produtos distintos, como, por exemplo, uma perfomance transmitida ao vivo onde o corpo é aparentemente torturado ou o cinema de David Cronnenberg, ou ainda programas de auditório na televisão que exploram a miséria humana, etc.

Desse vasto universo nos interessa recortar aquilo onde temos algum tempo de pesquisa (1), os sintomas que poderiam ser detectados sobre o tema da violência em relação ao cinema, partindo das contribuições que a psicanálise pode oferecer neste debate. Outra dificuldade inicial está colocada na própria utilização do termo violência.

Se realizarmos uma enquete veremos obviamente que a designação “violência” nos produtos culturais varia de acordo com a cultura de cada indivíduo e grupo, de modo que onde alguns apontam a estes e outros denunciam o escárnio ou a “banalização” da violência. A psicanálise, no entanto, se propõe a tarefa e ao risco de ir além dos aspectos sociológicos e das diferenças culturais. É preciso, antes de mais nada, assinalar o ponto fundamental que a teoria psicanalítica sustenta desde a sua fundação, de que a agressividade é constitutiva de todo e qualquer sujeito (2).

Embora seja possível afirmar que este conceito se encontra hoje de algum modo já incorporado ao senso comum, ele carrega em si uma subversão capaz de inverter todo e qualquer sentido na discussão sobre a violência, pelo simples fato de que sua aceitação implica que se coloque todo e qualquer sujeito no centro da discussão. Isto não é um detalhe. A implicação fundamental da admissão desta idéia afasta a redução de que se pode atribuir a violência apenas ao outro. Ora, de um ponto de vista ideológico essa perspectiva é demolidora. Implica, por exemplo, que não se pode eleger um grupo especifico ou apenas determinadas condições históricas para explicar o fenômeno.

Mais que isso, e também por isso talvez difícil de ser aceito, aceitar agressividade como constitutiva do humano implica dizer que de um modo ou de outro o problema não tem solução. Neste ponto, para uma grande parte dos cientistas, chega o momento em que a psicanálise deve sumariamente ser jogada no lixo. Entretanto, para aqueles que como nós tomam emprestado da psicanálise os referenciais de leitura do mundo se deve ainda dizer algo em sua defesa.

É conhecido, por quem se dispôs a uma leitura atenta dos escritos especialmente de Freud e Lacan, a postura da psicanálise frente a ciência de origem direta ou derivada do positivismo. Sem entrar no mérito desta discussão que em si mesma daria outro tema, o que nos importa aqui é assinalar para a precisa idéia de que para a teoria psicanalítica não há cura – no sentido positivista – para o sintoma.

Transposto para o tema que nos propusemos a discutir, eqüivale dizer que não haveria “cura” para a violência, ou seja, que não podemos tratar o problema como se houvesse um corpo estranho ao sujeito que devesse ser “consertado”. Assim, as saídas parciais passariam necessariamente por qualquer sujeito que viva em sociedade, através do meio de inserção deste sujeito na sociedade, passando pela administração da agressividade de cada um.

Feita esta digressão e deixadas as inúmeras questões abertas que as afirmações acima implicam, é preciso falar sobre o que a psicanálise pode dizer a respeito da violência apresentada no cinema, objeto a que me propus neste texto.

Nas dimensões e para os objetivos presentes, penso que seria tedioso apresentar descrições teóricas a respeito dos conceitos psicanalíticos mais comuns, assim, pretendo aludir descritivamente apenas aqueles menos habituais. Deste modo, entro diretamente no motivo básico que me move a propor a discussão sobre violência no cinema, qual seja, a idéia de que nos parece que alguns sintomas podem ser detectados a partir da forma como é mostrada (ou oculta) a figura do pai, especialmente na produção cinematográfica desta última década.

Por que a figura do pai e não outra qualquer?

A resposta a essa pergunta está aludida nos primeiros parágrafos deste texto: até que os movimentos nas relações humanos nos apresentem novos rumos, do ponto de vista cultural o pai é o representante simbólico da lei. Essa representação diz respeito a uma das idéias básicas em psicanálise que nos diz que ao pai se deve a função castradora, que provoca a separação na simbiose entre a mãe e a criança, um das passagens fundamentais do que ficaria conhecido em Freud como complexo de Édipo.

Retornando ao Édipo freudiano, Jacques Lacan busca estabelecer as conexões possíveis deste pai com a cultura, especialmente em relação à lei, partindo do pressuposto de que “a linguagem, com sua estrutura preexiste à entrada de cada sujeito (…) (1998:498). Elisabeth Roudinesco resume assim o esforço lacaniano: Lacan mostrou que o Édipo freudiano podia ser pensado como um a passagem da natureza para a cultura.

Segundo essa perspectiva, o pai exerce uma função essencialmente simbólica: ele nomeia, dá seu nome, e, através desse ato, encarna a lei. Por conseguinte, se a sociedade humana, como sublinha Lacan, é dominada pelo primado da linguagem, isso quer dizer que a função paterna não é outra coisa senão o exercício de uma nomeação que permite à criança adquirir sua identidade. (…) o que o levou (Lacan) a interpretar o complexo de Édipo não mais em referência a um modelo de patriarcado ou matriarcado, mas em função de um sistema de parentesco.(1998:542)

Para explicar a identificação no complexo de Édipo, a partir do processo que ocorre na infância entre o pai, a mãe e a criança, Erik Porge descreve as operações do que Lacan veio a denominar posteriormente como “metáfora paterna” (3): “Num primeiro tempo o sujeito se identifica ao falo, objeto do desejo da mãe.

A metáfora paterna “age em si”. Ela marca um lugar simbólico ainda velado. Num segundo tempo o pai intervém como privador da mãe face a criança, pela ligação do ‘reenvio da mãe a uma lei que não é a sua com o fato de que na realidade o objeto de seu desejo é possuído soberanamente por este mesmo outro à lei do qual ela reenvia’ (4).

Notamos aqui a diferença com Freud, que fazia pesar a interdição essencialmente sobre a criança, enquanto que Lacan a faz pesar sobre a mãe. A eficácia deste tempo depende do caso que a mãe faz da palavra do pai. Trata-se então de uma relação não ao pai, mas à palavra do pai (grifo nosso). Por fim, terceiro tempo, “o que o pai prometeu, é necessário que ele o sustente’ (5).

Ele deve dar provas de que tem o falo, de que ele o pode dar a mãe, de que ele é um pai ‘potente’, se não onipotente. O filho poderá se identificar ao pai, e a filha desejá-lo.” (1998:42).

De outro modo, quando essa função não é exercida pelo pai real, o fato impulsionaria a criança na busca de um outro pai simbólico que preenchesse essa função, que se diferenciaria, ainda, de um terceiro – o pai imaginário – aquele que se representa como o Todo-Poderoso, o bom deus garantidor da ordem no mundo o pai assustador, o pai com o qual se está em rivalidade fraterna: “Ali onde o pai real desfalece, há apelo ao pai simbólico, e ali onde desfalece a função do pai simbólico, de garantir a castração, surge o pai imaginário.” (Porge,1998:26).

Lacan sustentava que mesmo representada por uma só pessoa a metáfora paterna concentraria relações imaginarias e reais em maior ou menor grau inadequadas à sua fundamental relação simbólica. Neste jogo de relações aparece o que Lacan chamou, para designar o significante da metáfora paterna, o Nome-do-Pai (6): “É no Nome-do-Pai que devemos reconhecer o suporte da função simbólica que, desde a aurora dos tempos históricos, identifica sua pessoa à figura da lei” (1998:279).É fundamental reforçar aqui que não se trata do pai real, de carne e osso, mas da relação da criança com a palavra do pai. De outro modo eqüivaleria dizer que não se trata somente da autoridade real ou não do pai, mas de como esse pai representa – enquanto fato psíquico – a lei.

Este fato, para Lacan, está determinado pelo modo que a mãe, a partir da seu vínculo de amor e respeito, coloca, ou não, o pai em seu lugar ideal, ou seja, o “lugar que ela reserva ao Nome-do-Pai na promoção da lei” (7) (Lacan,1998:585).

O fato do Nome-do-Pai representar a lei implica mais que o limite entre aquilo que pode e o que não pode ser feito, implica principalmente, a possibilidade ou não da transgressão à lei. Para explicar isso, Jacques-Alain Miller, falando sobre o witz, utiliza o exemplo de um computador que pode apenas dizer o que é certo ou errado – como em um corretor de textos – ao passo que o Nome-do-Pai, ao representar as leis da linguagem é capaz não apenas de dizer o que é certo ou errado, mas ainda de cometer a infração de acolher a exceção do neologismo.

Assim, diz ele, não há witzsem, o Nome-do-Pai, já que o neologismo precisa ser aceito pelo Outro, aquele que mesmo representando a lei deixe-o passar. As implicações clínicas da falta deste representante da lei, Freud mostra no caso da fobia do menino Hans, na busca de um pai simbólico que realizasse a função castradora, e no caso Schreber, onde a foraclusão do significante do Nome-do-Pai desencadeia a psicose.

Para tentar explicitar no cinema os conceitos acima e as relações entre a violência e o lugar reservado ao Nome-do-Pai, buscarei analisar filmes recentes que considero representativos da exposição da violência que atualmente se encontra no cinema. Gostaria de tomar como objeto filmes exibidos durante o último ano, pelo fato de que talvez ainda estejam vívidos na memória daqueles que os viram e em razão de serem eles próprios objetos da discussão sobre a exibição da violência no cinema. Especificamente, gostaria de falar de dois filmes: Matrix (The Matrix: Larry e Andy Wachowski, 1999) e Clube de Luta (Fight Club: David Fincher, 1999).

FILME “MATRIX”

O eterno retorno do mito do salvador Matrix é a história de um hacker – Neo (Keanu Reeves) – que descobre que a realidade é apenas uma simulação criada artificialmente por computadores.

O enredo mostra o personagem tentando descobrir a causa do que o atormenta em sonhos e visões como uma verdade que ele “sabe” mas que permanece inconsciente, estando no meio de uma disputa onde agentes do “mundo simulado” e agentes do “mundo real” travam luta. Nos limites deste trabalho não é possível descrever todo o filme, assim tentarei resumir no enredo os pontos que mais parecem interessar para essa discussão, qual seja, aqueles que se relacionam na perspectiva do lugar do pai, ou do Nome-do-Pai e de como este está relacionado a violência que é mostrada no filme.

O mais importante deles e que de certo modo faz par as idéias lacanianas é o de que o mundo no filme é uma construção da linguagem, construído a partir de um programa de computador. Deste modo os personagens que conhecem a linguagem (no caso, dos computadores) tem poderes quase ilimitados dentro do mundo do simulacro. Do lado do “mundo real” que permanece como uma dimensão paralela, é apresentado ao espectador o líder da “resistência” ao simulacro: Morpheus.

Ele é uma espécie de pai simbólico que aguarda a chegada de um enviado mais sábio que ele próprio e capaz de salvar o “mundo real”. Segundo Morpheus, o que Neo tem na cabeça que tanto o atormenta é uma “farpa” que não o permite viver no mundo do simulacro. Essa farpa, a psicanálise chama objeto “pequeno a”: o objeto causa do desejo que resiste a ser simbolizado e que impede que o circuito do prazer se complete, forçando o sujeito a olhar para a realidade. A “realidade” no filme é um simulacro criado pelo megacomputador Matrix, que para Slavoj Zizek é aquilo que Lacan chamou “grande Outro”,”…a ordem simbólica virtual, a rede que estrutura a realidade por nós” (2000:01).

Nas palavras do personagem Morpheus:

Morpheus: “Matrix está em todos lugares, estamos ao redor de nós, aqui até mesmo neste quarto. (…) É o mundo que foi puxado em cima de seus olhos para o encobrir da verdade.

Neo: Que verdade?

Morpheus: Que você é um escravo, Neo. Que você, como todo o mundo outro, nasceu em escravidão… manteve dentro de uma prisão que você não sentir cheiro, gosto ou toque. Uma prisão de sua mente”

É desta prisão, onde os corpos funcionam como biobaterias para Matrix construir a realidade virtual que Morpheus pretende libertar os humanos. Uma das cenas fundamentais do filme acontece quando Morpheus leva Neo a uma vidente para que esta confirme ser Neo o enviado que vai liderar a resistência do “mundo real”. A mulher sugere a Neo que Morpheus não entende as coisas e que não há enviado a ser esperado, enfim, que Morpheus apesar de toda a sua inteligência está se autoenganando.

Mas o que ela realmente quer dizer com isso só se sabe ao final do filme quando Neo, colocado em uma situação de vida ou morte “vê”, como numa iluminação mística, o mundo como um conjunto de linhas de linguagem.

Então o espectador entende, junto com Morpheus, que não há alguém que seja Deus, mas apenas pais simbólicos, representantes da lei da linguagem que forma o mundo que conhecemos: somos apenas significantes para outros significantes, do qual o significante primeiro, o Um, o traço unário da diferença absoluta, Deus ou o pai da linguagem não nos é acessível. Ao enunciar este fato o filme relembra que ser pai é uma função que nomeia, mas que antes é nomeada pois não existe a priori.

Slavoj Zizek nos diz a esse respeito que este pai primordial não é o pai da força bruta como se tornou comum na leitura antropológica de Freud em Totem e Tabu, mas o pai que sabe.(1992:159)

Assim, no instante em que Neo ascende ao saber de que o mundo é uma construção da linguagem, ele passa a se deslocar fisicamente, aparecer e desaparecer, ter força descomunal, porque domina a linguagem a ponto de atravessá-la. Por outro lado, Matrix funciona, de certo modo, como a eterna repetição da fábula do redentor, filho de Deus, com poder de nos livrar de toda a violência do mundo.

Como resume Raimar Zons, após o fim do tempo histórico é o programador Anderson, o outro filho, que como neófito e sob seu nome de hacker Neo obtém a garantia do deus do sono Morpheus de que sua vida consciente não é vida, mas sim um programa, enquanto seu corpo imobilizado serve de biobateria e fonte de energia às novas máquinas pensadoras.

Esse despertar não só levará à anamnese anagramática do hacker Neo de que ele mesmo é esperado messianicamente ­ “The One”, mas também ao literal 2º nascimento do neófito a partir do muco de sua biomassa.

O espírito autoconfiante, no entanto, só entra no corpo estéril para armá-lo e transformá-lo espiritualmente. Assim, o lutador da resistência volta ao interior da Matrix como “não-homem” e como salvador, desdenhando maravilhosamente suas leis físicas.(2000:03)

Do ponto de vista da relação violência/Nome-do-Pai, Matrix parece reafirmar o lugar do pai simbólico como intermediário e portador da lei, o que assegura de certo modo a repetição do Nome-do-Pai, mas também emula o enredo comum às religiões. Estruturalmente, o lugar do pai, o lugar da lei, aparece similarmente na história da maioria das religiões, onde um mundo de desordem, violência, mentiras etc. vai ser combatido por alguém superior que conduzirá os explorados, humilhados, etc. ao “verdadeiro” mundo, na terra ou em qualquer outro lugar, onde as relações serão “reais”.

Para aqueles que assistem ao filme há ainda uma última cena em que o “mundo real” é apresentado não como o melhor dos mundos, mas um mundo caótico, onde estranhos animais gigantes perseguem os resistentes, como um Real dentro do “mundo real” que também resiste à simbolização.

Assim, a “liberdade” proposta no filme deixa, como lembra Zizek, uma mensagem obscura: se Neo é capaz de desafiar as leis da física – voando, por exemplo ­ é apenas porque continua a existir dentro da realidade virtual, sustentado por Matrix (2000:03).

Ou seja, enquanto “salvador” o que Neo promove é a mudança das regras da prisão mental, já que fora da realidade virtual só resta a terra arrasada. Matrix, enfim, parece deixar muito mais elementos para análise sobre as diferenças entre “real” e simulacro, talvez até mesmo do que seus realizadores desejassem.

FILME “CLUBE DE LUTA”

A derrisão paterna na sociedade permissiva em Clube de Luta o que vemos é uma situação bastante distinta daquela apresentada em Matrix. Se neste último, é em torno da busca do pai redentor que se desenvolve a trama, em Clube, o que assistimos é a derrisão da função paterna levada as últimas conseqüências.

O filme é um retrato interessante das formas de vínculo afetivo, de laço social possíveis numa sociedade permissiva. Em um mundo onde o sujeito volta a atenção às suas próprias experiências, em detrimento “do código ou ordem simbólica de ficções aceitas para nos orientarem nosso comportamento social” (Zizek,1999:5), o personagem Tyler (Brad Pitt), inicia o que se torna um Clube secreto, onde homens vão para lutar uns com os outros.

O que na aparência é um reflexo da ausência da lei, revela-se um grupo com regras rígidas, onde o próprio exercício do controle termina por gerar uma fonte de satisfação da libido . Os personagens progressivamente vão rompendo vínculos sociais ao tempo em que tornam sua atividade de “membros do clube” seu único vínculo. Durante a história, o que aparentemente começa com uma forma de transgressão, toma a forma de uma ditadura do superego, onde Tyler comanda o imperativo superegóico: goze ! – você deve porque pode!

De uma perspectiva ideológica, Clube de luta é um pequeno retrato de como a destruição de tudo que é velho em busca do novo pode acabar no fascismo. O clube estende suas ações à sociedade, através de atos de vandalismo e destruição, que parecem ter como objetivo somente a desarticulação social de uma sociedade calcada apenas nos valores do consumo e que é apresentada como desprovida de valores morais. O que se revela no desenvolvimento da trama é no entanto a ânsia de poder do próprio Tyler: os membros podem fazer qualquer coisa, desde que sigam o mestre. Neste sentido o filme relembra o velho modelo das ideologias totalitárias, historicamente sempre mascaradas sob o manto do “novo”. O que começa como um movimento de moralização dos costumes e na busca dos mais altos valores espirituais resulta num corporativismo de um grupo ou de uma sociedade, que alude para si os mais altos ideais e impinge o mal a quem não pertence a ela.

O que há, no entanto, de mais surpreendente está guardado para o final: Tyler e o co-fundador do clube, um personagem que é apresentado como tendo uma vida “socialmente correta” e que aparentemente se deixara seduzir pelo selvagem Tyler, revelam ser a mesma pessoa. A revelação da psicose do personagem funciona como um sentido que retorna re-significando toda a história. O que temos então estabelecido é o que Lacan chama a foraclusão do Nome-do-Pai, revelado na fala de Tyler para com seu “outro”:

“- Nós fomos abandonados pelos nossos pais e eles eram a imagem de Deus. Já pensou o que é Deus não gostar de você?”

“Sendo foracluído, o significante do Nome-do-Pai “retorna no real (ou seja, não simbolizado) sob a forma de um delírio contra Deus, encarnação de todas as imagens malditas da paternidade.”(Roudinesco, 1998: 542). O jogo de Tyler entre a negação de qualquer laço social, de qualquer código estabelecido, enfim, a negação do “grande Outro” e sua posterior psicose pode ser melhor entendida talvez através dos exemplos de Zizek: “Primeiramente, o “grande Outro” aparece como o agente oculto que faz as coisas acontecerem por detrás do palco: a divina providência na ideologia do cristianismo, a ‘invisível mão do mercado’ na economia atual, a ‘lógica objetivada história’ do marxismo-leninismo, a ‘conspiração judaica’ no nazismo, etc.

Em resumo, a distância entre o que nos queríamos conseguir e o efetivo resultado da nossa atividade, o excesso que resulta das intenções subjetivas é incorporado em outro agente, numa espécie de meta sujeito ( Deus, Razão, História, Judeus). Esta referencia ao grande Outro é naturalmente por si mesma ambivalente. Ela pode funcionar como um poderoso tranqüilizante (a confidência religiosa a Deus, a convicção de Stalin de que ele era um instrumento da necessidade histórica) ou como um terrível agente paranóico(como no caso da ideologia nazista que reconhecia por detrás da crise econômica, da humilhação nacional, da degeneração moral, etc, a mesma mão oculta dos judeus).” (1992:39)

Excluído da comunidade, da ordem simbólica, ou seja, simbolicamente morto, o personagem cindido realiza um suicídio onde tenta matar este unheimlich, o recalcado que volta paranoicamente como “estranho”.

Zizek argumenta que se existe um pré-simbólico – o grande Outro – quando nascemos, então o “contrato social”, estruturalmente, é uma escolha forçada: o que mantém a liberdade do sujeito de escolha é precisamente o fato dele escolher o contrato social – se o sujeito “escolhe” ser o “outro” da comunidade ele perde a liberdade, o que em termos clínicos é a psicose. A escolha fora do contrato social implica na oposição impossível ao Nome-do-Pai, o que implica no oposto à identificação simbólica que assegura o lugar do sujeito no espaço intersubjetivo.

A “escolha” da psicose eqüivale dizer que o sujeito se recusa a ceder em seu desejo, o que significa recusar-se “a trocar gozo pelo Nome-do-Pai.” (Zizek,1992:77). A “escolha” do personagem Tyler parece ser exatamente esta: ao perder qualquer espécie de laço social (emprego, relações afetivas, residência, etc) o personagem progressivamente vai sendo levando a esta “escolha impossível”, longe de qualquer identificação simbólica e cada vez mais perto da psicose.

Neste sentido, Tyler eptomiza aqui as discussões atuais da clínica psicanalítica sobre uma violência que está marcada pela ausência da eficácia simbólica, ou seja, uma violência que resulta em parte não apenas do declínio da figura do pai, mas mais ainda do declínio da própria eficácia simbólica da metáfora do Nome-do-Pai que não opera o corte simbólico necessário.

Ou seja, o personagem parece incorporar aquela violência que resulta da agressividade constitutiva do sujeito e que não encontra lei simbólica que faça corte ao narcisismo, fazendo com que esse indivíduo, voltado apenas para si, apresente não os sintomas neuróticos descritos por Freud – um mal estar resultante da renúncia necessária a construção da civilização (respeito ao ideais, sentimento de culpa) – mas sintomas relativos ao superego lacaniano que já previa o quadro social atual (homogeneização, desintegração do conceito de experiência, desaparição da memória, declínio da imago paterna, aumento do racismo, etc.) e que são da ordem do imperativo do gozo, onde o desejo não satisfeito freudiano dá lugar ao excesso que se manifesta na sintomatologia moderna da drogadição, da bulimía, da anorexia, do consumo a qualquer custo e em última instância, da psicose.

A leitura do personagem no nosso entender, entretanto, ultrapassa em muito as questões psíquicas inscrevendo o filme na discussão contemporânea sobre o pós-moderno. Falando sobre “O superego pós-moderno”, Zizek discute como a permissividade na sociedade pode dar origem a uma transgressão de outra natureza: “A ordem pública deixa de ser mantida pela hierarquia e regulamentação rígida, deixando portanto, de ser subvertida por atos de transgressão libertadora. Em lugar disso, temos relações sociais entre indivíduos livres e iguais, suplementadas por um ‘vinculo apaixonado’ com uma forma extrema de submissão que atua como o ’segredo sujo’, a fonte transgressiva de satisfação da libido. Numa sociedade permissiva, a relação rainha/escrava (citando como exemplo alguns tipos de casais lésbicos), autoritária e rigidamente codificada, se torna transgressiva. Esse paradoxo ou inversão é o próprio tema da psicanálise: a psicanálise (atual) não lida com o pai autoritário que proíbe o gozo, mas com o pai obsceno que o impõe como obrigação e, com isso, torna você frígido ou impotente.(…) (como) Um pai (que) trabalha duro para organizar o passeio dominical que precisa ser adiado repetidas vezes. Quando o passeio finalmente se concretiza, ele já está farto da idéia e grita com seus filhos: ‘Agora é bom que vocês curtam!’” (1999:8)

Deste modo, a discussão pós-moderna sobre uma suposta reflexividade (8) na constituição da identidade do “sujeito pós-moderno” esbarra – de uma perspectiva psicanalítica – no exercício da própria atividade de regulamentação social, na medida em que passa a ser investida de libido e transforma-se, assim, em fonte de satisfação: “Nossa sociedade hedonista e permissiva, na realidade é saturada de normas e regulamentos que visam a promover o nosso bem-estar (restrições ao cigarro e ao comer, regras contra o assedio sexual)” (Zizek,1999:5).

Esta parece ser uma das discussões que um filme como Clube de Luta pode estimular ao discutir as aparências entre um dever que numa sociedade liberal e democrática deve se tornar um “prazer” e um prazer que tende cada dia mais a se transformar numa obrigação que torna “os sujeitos culpados quando não são felizes” (idem).

Como foi dito no início, o objetivo deste trabalho não é promover qualquer espécie de defesa do patriarcado ou de retorno a eficácia da metáfora do Nome-do-Pai . Trata-se somente da tentativa de ler alguns sinais, a partir de um modo dado pela psicanálise de olhar o mundo e assinalar que alguma coisa muito importante parece estar mudando.

Como foi dito, se alguém “representa” o Nome-do-Pai, ele é mais do que alguém que diz o que é certo ou errado: ele é aquele que pode aceitar e autenticar a transgressão da norma. Não podemos inferir os resultados possíveis de uma mudança desse lugar e de sua função, mas talvez seja possível pensar que durante muito tempo teremos cada vez mais que lidar com sujeitos cuja relação, a partir da negação das relações com o simbólico (heranças culturais de qualquer espécie) se estreitam na relação com o imaginário.

O caso (9) que ganhou notoriedade quando um estudante universitário atirou em espectadores dentro de um cinema que exibia Clube de Luta parece ser apenas a parte mais visível da impossibilidade de transgressão no campo do simbólico. O cinema, como outros objetos da cultura, pode nos mostrar os rumos que os movimentos dos sujeitos nas sociedades podem estar tomando, enquanto objetos construídos por sujeitos que também são “objetos” da cultura. Neste sentido, acreditamos ser uma questão delicada nas análises a separação entre obras ditas “sérias” e outras de “entretenimento”, como se umas guardassem a verdade da reflexão e outras apenas a pilhéria sem conseqüências. Se há algo que a psicanálise nos ensinou de novo é precisamente que a revelação do inconsciente não se faz por obra da vontade, mas antes por descuido do sujeito.

No chiste, no sonhos, nos lapsos de linguagem, dizia Freud, é que se encontra o sujeito, mais talvez que nos discursos articulados, quando acreditamos saber o que falamos.

NOTAS

Pulp Fiction: Violência e Ironia no cinema dos anos 90. Dissertação. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica, 1999.
Lacan explica assim, resumidamente, o processo da agressividade: na criança, o movimento de identificação com o outro na constituição do “eu”, onde o indivíduo se fixa numa imagem que o aliena de si mesmo, resulta em uma relação erótica com o outro e o despertar de seu desejo pelo objeto de desejo do outro. Desta concorrência agressiva, nasce o “eu”, o “outro” e o “objeto”. “Durante esse período, registram-se as reações emocionais e testemunhos articulados de um transitivismo normal. A criança que bate diz que bateram nela, a que vê cair, chora. Do mesmo modo, é numa identificação com o outro que ela vive toda a gama das reações de imponência e ostentação, cuja ambivalência estrutural suas condutas revelam com evidência, escravo identificado com o déspota, ator com o espectador, seduzido com o sedutor” (1998:116).
Lacan denominou inicialmente essa função como “função do pai”, depois como “função do pai simbólico” e mais tarde “metáfora paterna”.
Porge citando Jacques Lacan in As formações do inconsciente, 22 de Janeiro de 1958, inédito.
Idem.
Lacan argumenta que em qualquer coletividade humana a “atribuição da procriação ao pai só pode ser efeito de um significante puro, de um reconhecimento, não pelo pai real, mas daquilo que a religião nos ensinou a invocar como o Nome-do-Pai.”(1998:562) Durante sua obra utiliza simultaneamente o Nome-do-Pai ao mesmo tempo em que utiliza os elementos pai real, pai simbólico e pai imaginário. O Nome-do-Pai funciona, diz Porge, como uma articulação do real, simbólico e imaginário que se distingue dos três elementos ao mesmo tempo que se articula como quarto elemento nodulado borromeanamente. Dito de outro modo, o Nome-do-Pai funciona como operador dos três nomes do pai.(1998:160)
Em 1960, no seminário Subversão do sujeito e dialética do desejo, Lacan diz , quase como desabafo, uma questão premente em nossos dias: “Será porventura preciso que se nos alie a prática, que em algum momento talvez adquira força de uso, de inseminar artificialmente mulheres, desrespeitada a proibição fálica, com o esperma de grandes homens, para que extraiam de nós um veredicto sobre a função Paterna? (1998:827)
Zizek resume assim a teoria da Sociedade de Risco formulada por autores como Anthony Giddens, Ulrich Beck e outros: “segundo essa teoria nossa vida não é vivida em submissão à natureza ou à tradição; não existe código ou ordem simbólica de ficções aceitas (o que Lacan chama de ‘o Grande Outro’) para nos orientar no comportamento social. Todos nossos impulsos, desde nossa orientação sexual até o sentimento de fazer parte de determinada etnia, são vividos, cada vez mais, como questões sujeitas a nossa própria opção.” (1999:01)
Acontecido no dia 03 de Novembro do ano passado, no shopping Morumbi em São Paulo.
Bibliografia

DIDIER-WEILL, A. Os três tempos da lei. Rio de Janeiro, Jorge Zahar ed., 1997.
FREUD, S:
(1905) “Totem e Tabu”. Obras Completas. Rio de Janeiro. Imago, 1988, vol. XIV.

________ (1919) “O estranho”. Obras completas. Rio de Janeiro. Imago, 1988, vol. XIV.

________ (1929) “O mal-estar da civilização”. Obras completas. Rio de Janeiro, Imago, 1988, vol.XXI.

LACAN, J. (1973) Mais, ainda. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, ed., 1985.
________ (1970) O avesso da psicanálise. Rio de Janeiro. Jorge Zahar ed., 1992.

________ (1966) Escritos. Rio de Janeiro. Jorge Zahar ed., 1998.

MILLER, J.A.(1999) Perspectivas do Seminário 5 de Lacan. Rio de Janeiro. Jorge Zahar ed.
PORGE, E. (1998) Os nomes do pai. Rio de Janeiro. Companhia de Freud.
ROUDINESCO, E.(1998) Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro. Jorge Zahar ed.
THIS, B. (1987) O pai: ato de nascimento. Porto Alegre. Artes Médicas.
ZIZEK, S. The Matrix: The truth of the exaggerations. Online Internet. 15/04/2000. Disponível em http://www.lacan.com
________ (1999) “O superego pós-moderno“. Folha de São Paulo, 23 de Maio. 1999. caderno Mais, p. 5-8.
.________ (1992) Enjoy your symptom! New York. Routledge..
________ O mais sublime dos histéricos – Hegel com Lacan. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1991.
ZONS, R. A Ética em Matrix. Simpósio Imagem e Violência. Online Internet. 05/04/2000.Disponível em http://www.sescsp.com.br.
Filmes Citados: Matrix (The Matrix). EUA, 1999. Dir: Larry e Andy Wachowski. Com: Keanu Reeves, Laurence Fishburne e Carrie-Anne Moss. 144 min.

Clube de Luta (Fight Club). EUA, 1999. Dir: David Fincher. com: Brad Pitt, Edward Norton, Helena Bonham Carter, Jared Leto, Meat Loaf Aday. 135 min

Por Você


Por Você
Eu dançaria tango no teto
Eu limparia
Os trilhos do metrô
Eu iria a pé
Do Rio à Salvador...
Eu aceitaria
A vida como ela é
Viajaria a prazo
Pro inferno
Eu tomaria banho gelado
No inverno...
Por Você!
Eu deixaria de beber
Por Você!
Eu ficaria rico num mês
Eu dormiria de meia
Prá virar burguês...
Eu mudaria
Até o meu nome
Eu viveria
Em greve de fome
Desejaria todo o dia
A mesma mulher...
Por Você! Por Você!
Por Você! Por Você!
Por Você!
Conseguiria até ficar alegre
Pintaria todo o céu
De vermelho
Eu teria mais herdeiros
Que um coelho..
Eu aceitaria
A vida como ela é
Viajaria à prazo
Pro inferno
Eu tomaria banho gelado
No inverno...
Eu mudaria
Até o meu nome
Eu viveria
Em greve de fome
Desejaria todo o dia
A mesma mulher...
Por Você! Por Você!
Por Você! Por Você!
Nã Nã Nã Nã Nã...
Eu mudaria
Até o meu nome
Eu viveria
Em greve de fome
Desejaria todo o dia
A mesma mulher...
Por Você! Por Você!
Por Você! Por Você!
Por Você! Por Você!
Por Você! Por Você!
Por Você! Por Você!


Barão Vermelho

Desejo


"Você é como o intenso desejo que lhe impulsiona:

Assim como é seu desejo,
assim será sua vontade.
Assim como é sua vontade,
assim serão seus atos.
Assim como são seus atos,
assim será seu destino.
Assim como é seu destino,
assim será você."

Deepak Chopra

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Ser Psicólogo


Ser psicólogo é uma imensa responsabilidade.

Não apenas isso, é também uma notável dádiva.

Recebemos o dom de usar a palavra, o olhar,

as nossas expressões, e até mesmo o silêncio.

O dom de tirar lá de dentro o melhor que temos

para cuidar, fortalecer, compreender, aliviar.

Ser psicólogo é um ofício tremendamente sério.

Mas não apenas isso, é também um grande privilégio.

Pois não há maior que o de tocar no que há de mais

precioso e sagrado em um ser humano: seu segredo,

seu medo, suas alegrias, prazeres e inquietações.

Somos psicólogos e trememos diante da constatação

de que temos instrumentos capazes de

favorecer o bem ou o mal, a construção ou a destruição.

Mas ao lado disso desfrutamos de uma inefável bênção

que é poder dar a alguém o toque, a chave que pode abrir portas

para a realização de seus mais caros e íntimos sonhos.

Quero, como psicólogo aprender a ouvir sem julgar,

ver sem me escandalizar, e sempre acreditar no bem.

Mesmo na contra-esperança, esperar.

E quando falar, ter consciência do peso da minha palavra,

do conselho, da minha sinalização.

Que as lágrimas que diante de mim rolarem,

pensamentos, declarações e esperanças testemunhadas,

sejam segredos que me acompanhem até o fim.

E que eu possa ao final ser agradecido pelo privilégio de

ter vivido para ajudar as pessoas a serem mais felizes.

O privilégio de tantas vezes ter sido único na vida de alguém que

não tinha com quem contar para dividir sua solidão,

sua angústia, seus desejos.

Alguém que sonhava ser mais feliz, e pôde comigo descobrir

que isso só começa quando a gente consegue

realmente se conhecer e se aceitar.

Walmir Monteiro

Linda menina,doce mulher


Linda menina,doce mulher,
rosto de menina,corpo de mulher,
de alma pura e olhar enigmático.
Por onde passa deixa no ar o seu suave perfume,
seu jeito cativante,contagia o ambiente,
e tua alegria e segurança,
transmite confiança.

Linda menina,doce mulher,
de encanto de menina,ao charme de mulher,
de sua ingenuidade,a sua inteligencia brilhante,
do seu jeito maduro,a sua sabedoria inigualável,
do seu lado místico,ao seu lado encantador.

Linda menina,doce mulher,
seu sorriso contagiante,
confunde-se com ar das montanhas,
sua pureza de espirito,
com as águas mais límpidas dos oceanos.

Linda menina,doce mulher,
sua ternura e delicadeza,
são admiradas,
sua personalidade e força interior,
são invejadas.

Linda menina,doce mulher,
um anjo enviado por "Deus",
para ajudar aqueles que precisam...
um anjo sem asas,
mas um anjo de mulher.

Linda menina,doce mulher,
se não existisse,
teria que ser inventada,
mas como já existe,
pode ser admirada.

Linda menina,doce mulher,
de sonho,a realidade,
se tornando o sonho de uns,
e a realidade de outros.

Linda menina,doce mulher,
de uma linda menina,
desabrocha uma doce mulher,
sensível menina,
e fascinante mulher.

Linda menina,doce mulher,
que se torna inesquecível,
na mente,
e eternizada no coração.

Linda menina,doce mulher,
na realidade ou na fantasia
será sempre a...
Linda menina,doce mulher...

Eduardo Souza

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Consulte um Psicólogo


Tenha uma vida Saudável!!!
A psicologia é a ciência que estuda os processos mentais. Psico significa alma ou atividade mental e logia significa estudo. Tem por objetivo analisar as área: cognitiva, afetiva e comportamental. O principal foco da psicologia se encontra no indivíduo, ou seja, cada um que esta lendo essa página.
É com VOCÊ mesmo!!!
Por isso cuide-se.
Todos nos estamos propensos a passar por Depressão, Ansiedade,Fobia,Fobia Social, Vícios Álcool e outras Drogas, Obsessões, Transtornos Alimentares, Transtornos da Personalidade,Problemas de Relacionamento,Problemas Sexuais, Problemas de Aprendizagem e Baixa Auto-Estima.
O objetivo maior do psicólogo é levar o ser humano a conhecer a si mesmo.Procurando fazer com que a pessoa tenha um conhecimento e compreensão de si.
O psicólogo tem um compromisso com a vida, ajudar uma pessoa a viver melhor,independente de quem seja.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Frases variadas


‎"As mulheres são tão encantadoras que se torna muito difícil encanta-las."

Eduardo Souza

‎"Amar é um sentimento puro que vem do coração,onde não precisam palavras,apenas um olhar para expressar esse sentimento."

Eduardo Souza

‎"Quem duvida do próprio amor, duvida de todas as pessoas que ama."

(Freud)

‎"Toda criança que brinca se comporta como um poeta, pois cria um mundo próprio, inserindo as coisas de seu mundo numa nova ordem que te agrada."

(Winnicott)

‎"Quanto mais o sujeito tenta se aproximar de seu passado, mais se afasta dele."

(Freud)

‎" Maravilhas nunca faltam no mundo, o que falta é a capacidade de senti-las e admirá-las ".

( Paul Schmitt )

‎" O único limite às nossas realizações de amanhã serão as nossas dúvidas de hoje."

( Franklin Roosevelt )

"Nada resiste ao bem e ao amor."

Leonardo Boff

Temos que reinventar um novo modo de estar no mundo".

L. Boff

‎" Um sorriso não custa nada, mas realiza muito; não dura senão um instante, mas a sua lembrança persiste por toda a vida ".

( Dale Carnegie )

‎" É preciso escutar a música da vida, pois a grande maioria das pessoas só percebe as dissonâncias ".

( La Fontaine )

‎" Qualquer que seja a crise em tua vida, nunca destrua as flores da esperança e colherás os frutos da fé ".

( Lorens )

‎" A verdadeira grandeza é a que não depende da humilhação dos outros ".

( Alexandre Dumas )

" A verdadeira perfeição do homem reside não no que o homem tem, mas no que o homem é ".

( Oscar Wilde )

‎"Não faças do amanhã o sinônimo de nunca,
nem o ontem te seja o mesmo
que nunca mais."

Chaplin

‎"Imaginar é o princípio da criação. Nós imaginamos o que desejamos, queremos o que imaginamos e, finalmente, criamos aquilo que queremos."

George Bernard Shaw

‎"O desejo exprime-se por uma carícia, tal como o pensamento pela linguagem."

Sartre

Relações


Cada dia está mais difícil saber o que as pessoas querem em relação ao lado sentimental,tanto homens quanto mulheres querem encontrar o amor e achar o parceiro(a) ideal,porém o q me parece é que qdo encontram,tem medo de assumir essa relação e de se intregar por inteiro,e em muitos casos como mecanismo de defesa,procuram ficar buscando defeitos na pessoa e compará-los,para fugir da relação.Sendo assim acabam se tornando pessoas vazias a procura de alguém que nunca vão encontrar....A busca do parceiro ideal,a cada dia se torna mais difícil pelo ponto de vista da exigência que colocamos para encontrá-lo.Não somos perfeitos e portanto dificilmente encontraremos alguém perfeito.Nesse caso temos que deixar de termos medo de nos dar a chance de ser feliz,temos que lutar pela pessoa que queremos ver suas qualidades e suas virtudes e não ficar arranjando pretextos para não sermos felizes.Todos nós temos características diferentes,uns são mais carinhosos,sentimentais....outros são mais escrachados,mais rudes....para sermos felizes temos que buscar em nós qual a pessoa que mais combina com o nosso jeito de ser,pois só assim poderemos encontrar o parceiro ideal.Amar é consquência de uma admiração e fruto de uma paixão,desvenda esse mistério e quebre barreiras para ser feliz.Não deixe que o medo e a insegurança contamine o seu "Eu" e lute pelo q vc quer sem medo de errar;afinal errar é humano e se não arriscarmos não saberemos nunca se vamos ou não acertar.

Eduardo Souza

sábado, 20 de agosto de 2011

Ansiedade e Depressão


Ansiedade e Depressão
O que há entre elas?

Muito embora os atuais manuais de classificação de doenças mentais tratem separadamente os quadros ansiosos dos afetivos, pesquisas e autores têm se preocupado em estabelecer relações entre esses dois estados psíquicos. Kendell (1983), ao longo de cinco anos de observação constata que o diagnóstico de Depressão passa para Ansiedade em 2% dos casos e, no sentido contrário, da Ansiedade para a Depressão em 24% dos casos.


Pode-se constatar também que antigos quadros ansiosos costumam evoluir no sentido da Depressão (Roth e cols. 1972, 1982). Lesse (1982) sustenta ainda a idéia da evolução do estresse para Ansiedade e em seguida para Depressão.

São conhecidos os expressivos sintomas depressivos em doentes com transtornos ansiosos e parece não se justificar, simplesmente, falar em Depressão secundária. Fawcet (1983) encontra sintomas depressivos em 65% dos ansiosos e Roth (1972), detecta em grande número de pacientes, simultaneamente irritabilidade, agorafobia, Ansiedade, culpa e agitação.



Entre os pacientes diagnosticados portadores de ansiedade, 65% apresenta sintomas francamente depressivos.


O medo, por exemplo, seja de características fóbica ou não, reflete sempre uma grande insegurança e pode aparecer tanto nos Transtornos de Ansiedade quanto nos Transtornos Afetivos de natureza depressiva.

A associação da Depressão com Crises de Pânico foi encontrada, inicialmente, em proporções que variam de 64 a 44% dos casos (Clancy e cols. 1978) . Os quadros ansiosos com ou sem Depressão secundária, não diferem do ponto de vista da idade de instalação, duração, tentativas de suicídio, história familiar, para esses dois autores.

O estudo de, Stavrakaki e Vargo (1986), onde são reavaliadas pesquisas dos últimos 15 anos, sugere três tipos de abordagem da questão Ansiedade versus Depressão:

1- Ansiedade e Depressão diferem qualitativamente;
2- Ansiedade e Depressão diferem quantitativamente e;
3- Ansiedade se associa à Depressão.

Ansiedade e Depressão: comorbidade, causa ou conseqüência?
Atualmente tem-se enfatizado muito a teoria unitária, pela qual a Ansiedade e a Depressão seriam duas modalidades sintomáticas da mesma afecção. As atuais escalas internacionais de Hamilton para avaliação de Depressão e de Ansiedade, não separaram nitidamente os dois tipos de manifestações. Outras escalas anteriores também mostravam a mesma indiferenciação entre os dois quadros emocionais (Johnstone e cols, 1986, Mendels, 1972).

A tendência unitária Ansiedade-Depressão se reforça ainda na eficácia do tratamento com antidepressivos, tanto para quadros ansiosos, como é o caso do Pânico, Fobia Social, do Transtorno Obsessivo-Compulsivo e mesmo da Ansiedade Generalizada, quanto para os casos de Depressão, com ou sem componente ansioso importante.

O número de autores que não acreditam na Ansiedade e Depressão como sendo a mesma coisa, aos quais nos juntamos, é expressiva maioria, entretanto, quase todos reconhecem existir alguma coisa em comum nesses dois fenômenos. Acreditamos, pois, na necessidade quase imperiosa de um substrato afetivo e de carater depressivo para que a ansiedade se manifeste patologicamente. O mesmo requisito afetivo não se necessita para a ansiedade normal e fisiológica. Talves seja por isso que os quadros ansiosos respondem tão bem à terapêutica antidepressiva.

Causa ou Conseqüência ?
Saber com certeza se a Ansiedade pode ser uma das causas de Depressão ou se, ao contrário, pode surgir como conseqüência desta ou, ainda, se uma nova entidade clínica independente se constitui quando ambos fenômenos coexistem num mesmo paciente, tem sido uma questão aberta à pesquisas e reflexões.

Strian e Klicpera (1984) consideram um quadro unitário de Depressão-Ansiedade e Clancy e cols (1978) constata que o humor depressivo antecede com freqüência ao primeiro ataque de pânico. Há observações do Transtorno Ansioso aparecer em pessoas com caráter predominantemente depressivo (Lader, 1975), e considera o paciente ansioso como portador de um tipo de Depressão endógena (Salomon, 1978). Ansiedade e Depressão são cogitados também como aspectos diferentes do mesmo Transtomo Afetivo por Downing e Rikels (1974).

O atual Transtorno Depressivo Persistente (Distimia), com ou sem a sintomatologia somática, foi cogitado como reflexo de sintomas depressivos mais francos e profundos, enquanto os quadros ansiosos seriam os casos onde o afeto depressivo se manifestaria atipicamente (Gersh e Fowles, 1979).

Mineka (1998) estuda a base cognitiva da Ansiedade-Depressão sob o enfoque da percepção humor-congruente dos estados ansiosos. De fato, a insegurança típica dos estados ansiosos podem ser melhor entendida à luz de uma auto-percepção pessimista e de uma representação temerosa da realidade, ambos de conotação depressiva. Monedero (1973), inclui no capítulo Afetividade, com igual destaque, as reações vivenciais anormais, depressão, mania e angústia. Considera a angústia como um temor de algo que vai acontecer e a Ansiedade como um temor atual, caracterizado pela procura e impaciência apressada. Nota-se o componente humor-congruente depressivo da Ansiedade.

Há ainda autores que admitem a Depressão como uma complicação freqüente dos transtornos ansiosos ou que os sintomas ansiosos são comuns nas doenças depressivas primárias (Rodney, 1997). Causa ou conseqüência? Aceitam o fato de pacientes com Depressão primária apresentarem estados ansiosos graves (Cunningham, 1997). A maioria dos autores, entretanto, afirma que pacientes com pânico primário, com pânico complicado pela Depressão, com Depressão Primária complicada por pânico ou com Depressão Primária, oferecem sérias dificuldades clínicas para se delimitar nitidamente os estados ansiosos e os depressivos.

Uma terceira posição, há tempos cogitada, é a Ansiosa-Depressiva como uma doença emancipada da Ansiedade Generalizada e da Depressão Maior (Stavrakaki, 1986). Esta hipótese unitária, mas diferente daquela que consiedera Ansiedade e Depressão como faces de uma mesma doença, também era sustentada por Paykel (1971) e por Downing e Rikels (1974). Schatzberg e cols (1983) dizem que os pacientes com quadros mistos de Ansiedade e Depressão, exigem terapias diferentes dos grupos isolados. Observam esses autores que quando as duas síndromes coexistem, a evolução é mais crônica, a resposta é menor às terapias convencionais e o prognóstico é pior.

Sonenreich e cols. (1991) afirmam que Ansiedade e Depressão combinadas representam um quadro separado, quantitativa e qualitativamente em muitos aspectos importantes, quer do transtorno ansioso, quer do transtorno afetivo.

Componente Genético
Geneticamente se constata que pacientes com Depressão Maior associada ao pânico tinham, entre os parentes de primeiro grau, uma percentagem muito aumentada de pessoas com Depressão Maior associada à transtornos ansiosos (fobias, transtorno de pânico, Ansiedade generalizada) e de pessoas alcoolistas em comparação com os parentes de portadores de Depressão Maior mas sem distúrbios ansiosos.

A presente observação sugere que a Depressão Maior e o Transtorno do Pânico podem ter em comum uma diátese subjacente. Entre os pacientes com Depressão Maior e Ansiedade Generalizada aumenta a freqüência de parentes com Transtorno Ansioso, em comparação com os controles normais. Mas essa relação não acontece em relação aos pacientes com Depressão Maior sem ansiedade. A mesma coisa no caso da Depressão Maior associada com fobias (Sonenreich, Corrêa e Estevão, 1991).

Vários estudos são contraditórios no que diz respeito aos estudos genéticos dos depressivos e dos ansiosos. Parte desses estudos apontam relações fenotípicas entre os casos de Ansiedade e os de Depressão, outros separam a Ansiedade da Depressão e outros ainda, identificam um subgrupo de Depressão Ansiosa. Para complicar, alguns desses estudos contestam haver maior número de distúrbios afetivos entre os parentes de ansiosos do que na população geral (Leckman e cols, 1984).

Segundo Stavrakakis e Vargo, os trabalhos de Koth identificam mais neuróticos nas famílias dos ansiosos, Valkenburg identifica mais deprimidos nas famílias dos pacientes com transtornos afetivos primários e Crowe encontra mais Transtornos do Pânico nas famílias de pacientes com neurose ansiosa.

Antecedentes Pessoais
Para Raskind e cols (1982), os pacientes com crises de pânico tiveram uma infância vivida em ambiente mais difícil e, freqüentemente, sofreram mais distúrbios depressivos. Os quadros de Ansiedade de Separação na Infância aparecem como antecedentes pessoais da Síndrome do Pânico em trabalhos de Klein (1974). Ele separa tais pacientes daqueles com Ansiedade Generalizada e Antecipatória, sem ataques de pânico.

Confirmando o aspecto contraditório das tentativas em diferenciar ou igualar a Ansiedade à Depressão, Hoehn-Saric (1982), por sua vez, não constata diferença alguma entre os dois grupos do ponto de vista da história infantil.

Resposta à Terapêutica
A posição unitária da Ansiedade e Depressão pode ser defendida pelo fato dos ansiosos respondem muito bem ao tratamento antidepressivo (Kelly e cols, 1970; Sargant, 1962 in. Kelly). Alguns autores enfatizam o fato de certos antidepressivos terem melhor efeito do que os benzodiazepínicos nas depressões e nas ansiedades (Johnstone e cols, 1986) e é clássico o fato das neuroses fóbicas e obsessivas responderem à terapia antidepressiva.

As obsessões que respondem à terapia antidepressiva são consideradas secundárias a um desequilíbrio tímico de natureza depressiva (Duhais, 1984). Angst (1974) constata entre a Depressão e a Ansiedade uma forte identidade. "Pensamento recente favorece a hipótese de que os transtornos depressivos e ansiosos têm origem comum", A sobreposição não se dá apenas nos sintomas depressivos e ansiosos mas, também, através de um espectro comum de ação dos antidepressivos e ansiolíticos.

Para Stavrakaki e Vargo (1986), a posição unitária entre Ansiedade e Depressão é baseada na superposição da sintomatologia das duas síndromes, na falta de estabilidade do diagnóstico clínico entre elas, na similaridade de pacientes ansiosos com os sem Depressão secundária em diversas variáveis, na tendência dos pacientes com estados ansiosos prolongados para desenvolver sintomas depressivos, no fracasso em se achar dimensões nitidamente separadas de Ansiedade e Depressão pelas escalas de auto-avaliação e de avaliação e na falta de respostas específicas ao tratamento medicamentosos.

A constatação do envolvimento dos receptores 5HT (serotonina), conhecidamente implicados na Depressão, na sintomatologia da Ansiedade parece ser um importante ponto de partida para a identidade dos dois fenômenos psíquicos como tendo uma raíz comum (Bromidge e cols, 1998, Kennett e cols, 1997), seja do ponto de vista etiológico, seja terapêutico.

Apesar de estudos eletroencefalográficos e sonográficos apontarem, na década passada, diferenças entre os quadros depressivos e ansiosos (Akiskal, 1986), onde a fase REM se instala mais cedo na Depressão que na Ansiedade, continua havendo uma identidade muito grande entre estes dois estados emocionais no que diz respeito ao tratamento farmacológico.

O estudo de Kahn e cols (1986), que também separa estados ansiosos de depressivos com base nas escalas de Hopkins Symptom Checklist, Hamilton, RDC, Escalas Covi, Raskin, reconhece a superioridade dos antidepressivos aos ansiolíticos tanto no tratamento da Ansiedade, quanto da Depressão. Por outro lado, apesar dos estados ansiosos responderem signficativamente aos antidepressivos, da mesma forma com que respondem aos ansiolíticos benzodiazepínicos, estes últimos não se prestam ao tratamento dos estados depressivos com eficácia (Cunningham LA, 1997). Kuzel (1996) também reconhece a eficácia dos benzodiazepínicos para o tratamento da Ansiedade Aguda mas recomenda antidepressivos para o tratamento dos estados ansiosos de longa duração.

Conclusão
A revisão sobre esse tema acaba sempre contrapondo trabalhos de autores que defendem três tendências diversas; a unidade dos distúrbios ansiosos e depressivos como sendo o mesmo fenômeno, a dualidade entre esses dois estados afirmando tratar-se de distúrbios diferentes e as formas mistas como uma entidade específica com sintomas depressivos e ansiosos.

Tais diferenças são, sem dúvida, decorrentes das diversas maneiras de se conceituar esses estados emocionais e das diversas metodologias dos trabalhos científicos. As diferenças vão da conceituação semântica, calcada na multiplicidade de conceitos de Ansiedade e Depressão, até a interpretação metodológica das observações.

As diferentes pesquisas têm demonstrado não existir até agora uma posição inequívoca para o problema das relações entre Depressão e Ansiedade. Diante dessa polêmica vamos encontrar sempre circunstâncias onde estes quadros se associam.

Embora não possamos saber ainda, com certeza, se Ansiedade e Depressão são a mesma doença, ao menos tem sido consensual o fato dos antidepressivos atuarem satisfatoriamente nos quadros ansiosos tanto quanto nos depressivos (Feighner, 1996). Ainda que o termo comorbidade de Ansiedade e Depressão satisfaça uma postura politicamente correta, a pouca diferença de resultados no tratamento desses quadros com antidepressivos, notadamente os ISRS, aponta para uma satisfatória solução clínica (Rodney e cols, 1997, Kuzel RJ, 1996).

Ansiedade

Há autores que definem a era moderna como a Idade da Ansiedade, associando a este acontecimento psíquico a agitada dinâmica existencial da modernidade; sociedade industrial, competitividade, consumismo desenfreado e assim por diante.


Diz-se que a simples participação da pessoa na sociedade contemporânea já preenche, por si só, um requisito suficiente para o surgimento da Ansiedade. Portanto, viver ansiosamente passou a ser considerado uma condição do homem moderno ou um destino comum ao qual todos estamos, de alguma maneira, atrelados.

Com certeza, até por uma questão biológica, podemos dizer que a Ansiedade sempre esteve presente na jornada humana, desde a caverna até a nave espacial. A novidade é que só agora estamos dando atenção à quantidade, tipos e efeitos dessa Ansiedade sobre o organismo e sobre o psiquismo humanos.

Nosso potencial ansioso sempre se manteve fisiologicamente presente e sempre carregando consigo o sentimento do medo, sua sombra inseparável. É muito difícil dizer se era diferente o estresse (esta revolução orgânica e psíquica) que acometia o homem das cavernas diante de um urso invasor de sua morada, daquilo que sente hoje um cidadão comum diante do assaltante que invade seu lar. Provavelmente não.

Faz parte da natureza humana certos sentimentos determinados pelo perigo, pela ameaça, pelo desconhecido e pela perspectiva de sofrimento. A Ansiedade passou a ser objeto de distúrbios quando o ser humano colocou-a não a serviço de sua sobrevivência, como fazia antes, mas a serviço de sua existência, com o amplo leque de circunstâncias quantitativas e qualitativas desta existência.

Assim, o estresse passou a ser o representante emocional da Ansiedade, a correspondência psíquica de toda movimentação que o estresse causa na pessoa. O fato de um evento ser percebido como estressante não depende apenas da natureza do mesmo, como acontece no mundo animal, mas do significado atribuído à este evento pela pessoa, de seus recursos, de suas defesas e de seus mecanismos de enfrentamento.

Isso tudo diz respeito mais à personalidade que aos eventos do destino em si. Isso quer dizer que no mundo animal, um cachorro representa para o gato um estímulo estressante preciso e definido: um cachorro realmente. No ser humano, um elevador pode representar um elevador mesmo, se a pessoa não tem ansiedade patológica, ou um estímulo bastante estressor, se a pessoa tiver claustrofobia.


Embora a Ansiedade favoreça a performance e a adaptação, ela o faz somente até certo ponto, até que nosso organismo atinja um máximo de eficiência. À partir de um ponto excedente a Ansiedade, ao invés de contribuir para a adaptação, concorrerá exatamente para o contrário, ou seja, para a falência da capacidade adaptativa.

Em nossos ancestrais o mecanismo da ansiedade-estresse foi destinado à sobrevivência da espécie diante dos perigos próprios da luta pela vida, como acontece com qualquer animal acima dos répteis na escala filogenética. Era um mecanismo útil no caso das ameaças de animais ferozes, das guerras tribais, das intempéries climáticas, da busca pelo alimento, da luta pelo espaço geográfico, etc.

No ser humano moderno, apesar dessas ameaças não mais existirem em sua plenitude, tal como existiram outrora, o equipamento biológico da ansiedade-estresse continuou existindo. Apesar dos perigos primitivos e concretos não existirem mais com a mesma freqüência, persistiu em nossa natureza a capacidade de reagirmos ansiosamente diante das ameaças.

Com a civilidade do ser humano, outros perigos apareceram e ocuparam o lugar daqueles que estressavam nossos ancestrais arqueológicos. Hoje em dia tememos a competitividade social, a segurança, a competência profissional, a sobrevivência econômica, as perspectivas futuras e mais uma infinidade de ameaças abstratas e reais. Enfim, tudo isso passou a ter o mesmo significado de ameaça e de perigo que as questões de pura sobrevivência à vida animal que assombravam nossos ancestrais.

Na antigüidade tais ameaças eram concretas e a pessoa tinha um determinado objeto real à combater (fugir ou atacar), localizável no tempo e no espaço, hoje em dia esse objeto de perigo vive dentro de nós. As ameaças vivem, dormem e acordam conosco.

Se, em épocas primitivas o coração palpitava, a respiração ofegava e a pele transpirava diante de um animal feroz a nos atacar, se ficávamos estressados diante da invasão de uma tribo inimiga, hoje em dia nosso coração bate mais forte diante do desemprego, dos preços altos, das dificuldades para educação dos filhos, das perspectivas de um futuro sombrio, dos muitos compromissos econômicos cotidianos e assim por diante. Como se vê, hoje nossa Ansiedade é contínua e crônica. Se a adrenalina antes aumentava só de vez em quando, hoje ela está aumentada quase diariamente.

A Ansiedade aparece em nossa vida como um sentimento de apreensão, uma sensação de que algo está para acontecer, ela representa um contínuo estado de alerta e uma constante pressa em terminar as coisas que ainda nem começamos. Desse jeito, nosso domingo têm uma apreensão de segunda-feira e a pessoa antes de dormir já pensa em tudo que terá de fazer quando o dia amanhecer. É a corrida para não deixar nada para trás, além de nossos concorrentes. É um estado de alarme contínuo e uma prontidão para o que der e vier.

No ser humano o conflito parece ser essencial ao desenvolvimento da Ansiedade. Em nosso cotidiano, sem termos plena consciência, experimentamos um sem-número de pequenos conflitos, interpessoais ou intrapsíquicos; as tensões entre ir e não ir, fazer e não fazer, querer e não poder, dever e não querer, poder e não dever, a assim por diante. Portanto, motivação fisiológica para o aparecimento da Ansiedade existe de sobra.

A Ansiedade pode se manifestar em três níveis: neuroendócrino, visceral e de consciência. O nível neuroendócrino diz respeito aos efeitos da adrenalina, noradrenalina, glucagon, hormônio anti-diurético e cortisol. No plano visceral a Ansiedade corre por conta do Sistema Nervoso Autônomo (SNA), o qual reage se excitando o organismo na reação de alarme (sistema simpáticoto) ou relaxando (sistema vagal) nas fase de esgotamento.

Cognitivamente a Ansiedade se manifesta por dois sentimentos desagradáveis:

1- através da consciência das sensações fisiológicas de sudorese, palpitação, inquietação e outros sintomas autossômicos (do sistema nervoso autônomo);
2- através da consciência de estar nervoso ou amedrontado.

Os padrões individuais de Ansiedade variam amplamente. Alguns pacientes têm sintomas cardiovasculares, tais como palpitações, sudorese ou opressão no peito, outros manifestam sintomas gastrointestinais como náuseas, vômito, diarréia ou vazio no estômago, outros ainda apresentam mal-estar respiratório ou predomínio de tensão muscular exagerada, do tipo espasmo, torcicolo e lombalgia. Enfim, os sintomas físicos e viscerais variam de pessoa para pessoa. Psicologicamente a Ansiedade pode monopolizar as atividades psíquicas e comprometer, desde a atenção e memória, até a interpretação fiel da realidade.


Assim sendo, considerando a nossa necessidade fisiológica de nos adaptarmos às diversas circunstâncias através da Ansiedade, falamos em Ansiedade Normal. Por outro lado, falamos também da Ansiedade Patológica como uma forma de resposta inadequada, em intensidade e duração, à solicitações de adaptação. Um determinado estímulo (interno ou externo) funcionando como uma convocação de alarme continuamente, por exemplo, pode favorecer o surgimento da Ansiedade Patológica.



Na fig. acima, a relação entre o nível de estresse e a performance; quando o estresse aumenta (linha horizontal) melhora a adaptação, até um ponto Ótimo, daí em diante a performance começa a decrescer (vertical) até o a Desadaptação e, finalmente, o Esgotamento

Se em outros tempos o ser humano manifestava sua Ansiedade de maneira muito próxima a um medo especificamente dirigido a algum objeto ou situação específicos e delimitados no tempo (animal feroz, tempestade, guerra, etc.), hoje a maioria dos estímulos para esta emoção são inespecíficos (insucesso, insegurança social, competitividade profissional, frustração amorosa, política ou religiosa, constrangimento ético, etc.); o ser humano moderno coloca-se em posição de alarme diante de um inimigo abstratos e impalpável.

A Ansiedade aparece em nossa vida como um sentimento de apreensão, uma sensação de que algo está para acontecer, ela representa um contínuo estado de alerta e uma constante pressa em terminar as coisas que ainda nem começamos. É desse jeito que nosso domingo tem uma representação de segunda-feira e a pessoa antes de dormir já pensa em tudo que terá de fazer quando o dia amanhecer. É um estado de alarme contínuo e uma prontidão para o que der e vier.

A natureza foi generosa nos oferecendo a atitude da Ansiedade ou Estresse, no sentido de favorecer nossa adaptação. Porém, não havendo um tempo suficiente para a recuperação desse esforço psíquico, o qual restabeleceria a saúde, ou persistindo continuadamente os estímulos de ameaça que desencadeiam a reação de Estresse, nossos recursos para a adaptação acabam por esgotar-se. O Esgotamento é, como diz o próprio nome, um estado onde nossas reservas de recursos para a adaptação se acabam.

Biologicamente a etiologia da Ansiedade parece estar relacionada aos sistemas Noradrenérgico, Gabaérgico e Serotoninérgico (da noradrenalina, serotonina e gaba, respectivamente) do Lombo Frontal e do Sistema Límbico. Os pacientes ansiosos tendem a ter um tônus simpático aumentado, respondendo emocionalmente de forma excessiva aos estímulos ambientais e demorando mais a adaptar-se às alterações do Sistema Nervoso Autônomo. Segundo Kaplan, a Ansiedade tem uma ocorrência duas vezes maior no sexo feminino e se estima que até 5% da população geral tenha um distúrbio generalizado de Ansiedade. As teorias psicossociais sobre a gênese da Ansiedade são exaustivamente estudadas, não só pela medicina como também pela psicologia, pela sociologia, pela antropologia e pela filosofia.

Transtorno de Ansiedade Generalizada
A característica essencial do Transtorno de Ansiedade Generalizada, segundo o DSM.IV, é uma expectativa apreensiva ou preocupação excessiva, ocorrendo na maioria dos dias e com duração de, pelo menos, 6 meses. A pessoa portadora de Transtorno de Ansiedade Generalizada considera difícil controlar essa preocupação excessiva, a qual é acompanhadas de pelo menos três dos seguintes sintomas adicionais:

Inquietação,
Fatiga,
Dificuldade em concentrar-se,
Irritabilidade,
Tensão muscular e
Perturbação do sono

Embora os pacientes com Transtorno de Ansiedade Generalizada nem sempre sejam capazes de identificar suas preocupações como "excessivas", eles relatam sofrimento subjetivo por causa delas, têm dificuldade em controlá-las ou experimentam prejuízo social ou ocupacional por causa disso.

A intensidade, duração ou freqüência da ansiedade ou preocupação excessivas são claramente desproporcionais ao evento estressor e a pessoa considera difícil evitar que essas preocupações interfiram na atenção e nas tarefas que precisam ser realizadas. Normalmente ela tem dificuldade em parar de se preocupar.

Os adultos com Transtorno de Ansiedade Generalizada freqüentemente se preocupam com circunstâncias cotidianas e rotineiras, tais como possíveis responsabilidades no emprego, finanças, saúde de membros da família, infortúnio acometendo os filhos ou questões menores, tais como tarefas domésticas, consertos no automóvel ou atrasos a compromissos.

Critérios para Diagnóstico de Transtorno de Ansiedade
A. Ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva), ocorrendo na maioria dos dias por pelo menos 6 meses, nos diversos eventos ou atividades (tais como desempenho escolar ou profissional).
B. O indivíduo considera difícil controlar a preocupação.
C. A ansiedade e a preocupação estão associadas com três (ou mais) dos seguintes sintomas, presentes na maioria dos dias nos últimos 6 meses. Nota: Apenas um item é exigido para crianças.
(1) inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele
(2) fatiga
(3) dificuldade em concentrar-se ou sensações de "branco" na mente
(4) irritabilidade
(5) tensão muscular
(6) perturbação do sono (dificuldades em conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório e inquieto).
D. O foco da ansiedade ou preocupação não se refere a ter um Ataque de Pânico,ou ficarr embaraçado em público (como na Fobia Social), ou ser contaminado (como no Transtorno Obsessivo-Compulsivo).
E. A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
F. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral (por ex., hipertiroidismo).


As crianças com Transtorno de Ansiedade Generalizada tendem a exibir preocupação excessiva com sua competência ou a qualidade de seu desempenho. Durante o curso do transtorno, o foco da preocupação pode mudar de uma preocupação para outra.

Estresse e Ansiedade
Diante de uma situação estressora, o tipo e o grau da resposta de cada pessoa não dependerá apenas da força, importância e freqüência do evento de vida estressor. Dependerá sim da capacidade de cada um em interpretar, avaliar e enfrentar as vivências estressoras. Essa capacidade tem sido atribuída a determinadas características da personalidade da pessoa.

Apesar de ter seu perfil básico atrelado à personalidade, a resposta ao estresse, chamada de capacidade de enfrentamento do evento estressor, acaba fazendo parte do arsenal cognitivo de cada um. Como se deduz, esse arsenal cognitivo não é estático e imutável ao longo da vida, podendo ser dinamicamente alterado para melhor ou para pior. Talvez essa questão seja um dos principais objetivos da chamada Terapia Cognitivo-Comportamental.

Quando intensa a resposta ao estresse pode gerar ativação fisiológica, ou seja, pode mobilizar todo organismo a participar desse esforço adaptativo; inicialmente através do Sistema Nervoso Autônomo e, em seguida, de todo sistema neuro-endócrino-eletrolítico.

Se o esforço adaptativo aos eventos estressores for freqüente, duradouro ou intenso, pode levar a um estado de Esgotamento, que é a falência dos recursos emocionais e fisiológicos. Isso leva ao aparecimento de transtornos orgânicos diversos e, do lado psíquico, predispõe ao aparecimento de Transtornos de Ansiedade e outros transtornos emocionais.

Assim, por conta do estresse, o desenvolvimento de um transtorno, seja ele emocional ou orgânico (psicossomático), está diretamente relacionado à freqüência e duração das situações que o sujeito avalia como estressoras para si, e não, exatamente, da magnitude do evento de vida propriamente dito (objetivamente considerado). Margis e cols. (2003), concluíram em trabalho sobre a relação entre estressores, estresse e ansiedade que, para os eventos de vida estressores causarem o surgimento de sintomas de Depressão ou Ansiedade, deve haver uma predisposição genética para lidar de forma inadequada com esses eventos.

Os acontecimentos vividos ou as circunstâncias ambientais podem provocar estresse. Se esse estresse provoca ou não a Ansiedade Patológica é uma outra questão. Margis e cols. falam sobre os eventos de vida estressores.

Os eventos de vida estressores têm sido diferenciados em dependentes e independentes. Os eventos de vida dependentes apresentam a participação do sujeito, ou seja, dependem da forma como o sujeito se coloca nas relações interpessoais, como se relaciona com o meio, de forma que seu comportamento pode provocar situações desfavoráveis para si mesmo. Os eventos de vida estressores independentes são aqueles que estão além do controle do sujeito, independem de sua participação, sendo inevitáveis, como por exemplo, a morte de um familiar ou a saída de um filho de casa, etc.

Há ainda uma diferença entre evento traumático e evento de vida estressor. O evento traumático é aquele que produz conseqüências psíquicas por longo tempo, às vezes por muitos anos. O evento de vida estressor é aquele que, embora possa ter efeitos psicológicos sob a forma de sintomas e desadaptação, uma vez removido ou afastado, há uma diminuição do quadro psicopatológico provocado por ele.



Além dos eventos de vida estressores, mais fortes e importantes, existem também os acontecimentos diários menores, vindos das diversas situações cotidianas, como a agitação do dia-a-dia, a luta pela competitividade, os dissabores da violência urbana, as dificuldades econômicas, etc. Muitas vezes estes acontecimentos diários menores, por serem freqüentes acabam gerando respostas de estresse também, com efeitos psicológicos e biológicos para alguns indivíduos.


Fobia (e Ansiedade) Social
Incluído em 29/01/2005


Há autores que definem a era moderna como a Idade da Ansiedade, associando a este acontecimento psíquico a agitada dinâmica existencial da modernidade; sociedade industrial, competitividade, consumismo desenfreado e assim por diante.


Diz-se que a simples participação do indivíduo na sociedade contemporânea já preenche, por si só, um requisito suficiente para o surgimento da Ansiedade. Portanto, viver ansiosamente passou a ser considerado uma condição do homem moderno ou um destino comum ao qual todos estamos, de alguma maneira, atrelados.

Com certeza, até por uma questão biológica, podemos dizer que a Ansiedade sempre esteve presente na jornada humana desde a caverna até a nave espacial. A novidade é que só agora estamos dando atenção à quantidade, tipos e efeitos dessa Ansiedade sobre o organismo e sobre o psiquismo humanos, de acordo com as concepções da prática clínica, da medicina psicossomática e da psiquiatria.

A Fobia Social é caracterizada pelo medo persistente de contatos sociais ou de atuações em público, por temer que essas situações resultem embaraçosas. A exposição a esses estímulos (contactos sociais) produz, quase invariavelmente, uma imediata resposta de ansiedade, juntamente com sintomas autonômicos (do sistema nervoso autônomo, como palpitações, rubor, sudorese, etc). diante disso, essas situações desencadeadoras da ansiedade acabam sendo evitadas ou são toleradas com grande mal estar.

Fala-se em Ansiedade Social quando existe a ansiedade antecipatória, os sintomas autossômicos (tontura, sudorese, etc) mas a intensidade do quadro não é tão limitante quanto na Fobia Social, propriamente dita. Alguma referência à esse quadro existe no DSM.IV sob o nome de Transtorno da Personalidade por Evitação, caracterizada por intensa Ansiedade de Evitação.

A freqüência da Fobia Social é o segundo entre os transtornos fóbicos (25%), sendo superado apenas pela agorafobia. Assim sendo, como a Ansiedade Social é a mesma patologia em grau menor, sua freqüência é igualemente elevada.

O aspecto clínico mais contundente, pelos manuais de classificação, que define tanto a Fobia Social quanto a Ansiedade Social é seu caráter crônico e a grave interferência que o comportamento fóbico-evitativo ocasiona no rendimento global da pessoa, seja no trabalho, na escola ou nas relações sociais habituais.

Segundo o DSM-IV, apesar do diferente status diagnóstico entre a Fobia Social, pertencente ao Eixo I - transtornos clínicos, e o Transtorno da Personalidade por Evitação, no eixo II - transtornos da pessoalidade, ambos transtornos poderiam ser conceitos alternativao de um mesmo estado psicoemocional.

O Transtorno da Personalidade por Evitação compatibiliza uma série de características clínicas com a Fobia Social, podendo quase se equiparar à Fobia Social Generalizada, mas como aparece em grau menor, seria apropriado chamá-la de Ansiedade Social.

Portanto, nada mais justo do que se considerar, nos indivíduos com uma Fobia Social Generalizada, um diagnóstico adicional de o Transtorno da Personalidade por Evitação. Isso significa que não será fácil distinguir esses dois estados, nem do ponto de vista clínico e psicopatológico, nem do ponto de vista terapêutico.

A Fobia Social implica, assim como outras fobias, numa reação aguda de ansiedade na presença de uma determinada situação (estímulo externo ou imagem interna). Tanto no caso da Fobia Social, quanto da Ansiedade Social, a situação desencadeante é sempre ligada ao contacto social, o qual tem a propriedade de ser o suficientemente ameaçante para gerar uma reação intensa de temor.

Pode existir, na história do desenvolvimento da Ansiedade Social, alguma experiência social negativa que tenha se abatido sobre uma pessoa psicologicamente vulnerável ou afetivamente mais sensível. Daí em diante o contacto social se acompanhará de respostas fisiológicas de ansiedade (rubor, taquicardia, tremor, sudorese, etc.). À sombra dessa experiência, digamos, traumática, haverá sempre uma tensão antecipatória de conseqüências negativas contaminando outras relações sociais. E esta antecipação psíquica provocará as mesmas respostas fisiológicas de ansiedade experimentadas na origem histórica do problema.

De modo geral esses pacientes com Ansiedade Social ou Fobia Social começam a evitar situações sociais que provocam respostas ansiosas desagradáveis e, por trás dessa evitação, surgirá uma sensação de alivio da resposta ansiosa, juntamente com sentimentos de culpa por não estar conseguindo enfrentar o problema eficientemente. Cada conduta de evitação reforça a fobia e promove sua manutenção, de tal forma que, não tratada, a Fobia Social tende a ser crônica e incapacitante.

Com respeito ao Transtorno da Pessoalidade por Evitação, perfeitamente identificada com inúmeros casos de timidez, também se nota uma forte tendência de evitação para aliviar a ansiedade antecipada por situações sociais entendidas como difíceis. No caso desse Transtorno da Pessoalidade por Evitação, a evitação se caracteriza por ser generalizada, comportamental, emocional e quase incontrolável.

A evitação nessas pessoas que sofrem de Transtorno da Pessoalidade por Evitação é ativa, ou seja, elas experimentam um grau importante de ansiedade interpessoal, temem ser rejeitadas e humilhadas e, por isso, evitam ativamente as situações interpessoais.

Pois bem, será esse o ponto principal e definitivo que relaciona o Transtorno da Pessoalidade por Evitação com a Adicção a Internet; essas pessoas, mesmo evitando ativamente o relacionamento social cotidiano e concreto, desejam estabelecer relações interpessoais via Internet.

Segundo o DSM-IV, o Transtorno da Personalidade por Evitação ou Esquiva comporta um padrão geral de inibição social, sentimentos de inferioridade e hipersensibilidade à avaliação negativa por parte dos outros que começa no principio da idade adulta e se manifestam em diversos contextos, tais como no trabalho ou atividades que impliquem em contacto interpessoal importante.

A ansiedade mórbida aqui se dá devido ao medo das críticas, da desaprovação ou da rejeição, da sensação em não agradar. Tudo isso resulta na repressão nas relações íntimas devido ao medo de ser envergonhado ou ridicularizado, etc.

As pessoas portadoras de Transtorno da Pessoalidade por Evitação ou Fobia Social mas que não querem prescindir da convivência social ou dos vínculos com os demais, buscarão outras estratégias de aproximação para satisfazer suas necessidades de contacto sem ter que atravessar pelo desagradável momento da reação de ansiedade. É aí que procuram avidamente e obsessivamente pelo contacto via Internet.

Fobia Social com Agorafobia
A Fobia Social acaba fazendo com que a pessoa sofra Ataques de Pânico cada vez que põe os pés para fora de casa. Inicialmente esse transtorno ansioso começa com uma estranha sensação ao atravessar uma rua, por exemplo, ou ao participar de uma reunião de trabalho ou coisa assim.

A sensação pode ser de uma súbita tontura, uma forte pressão no peito e um pavor irracional de cair no chão. Algumas pessoas começam com uma crise leigamente (e erradamente) tida como labirintite. Esse pode ser o primeiro sinal de que algo esta fora de controle e, logo os episódios se tornaram freqüentes. O mal-estar volta a aparecer quando a pessoa se sente em situação de tensão, como em supermercados, no trânsito, no banco, no ônibus, avião, etc. Sair de casa se torna um sacrifício. O medo relacionado a espaços abertos chama-se agorafobia, um transtorno que 25% da população está sujeita a sofrer, pelo menos uma vez na vida.

Entre as manifestações da ansiedade patológica existem as chamadas Fobias Específicas e, como o nome diz, são específicas de determinadas situações ou objetos (barata, seringa de injeção, elevador, altura). Existe dentro dessa classificação a Fobia Social, fazendo com que a pessoa tenha verdadeiro pavor de gente e as tarefas sociais banais, como assinar um documento ou comer na frente dos outros, transformam-se num tormento.

Baseado no grau de comprometimento sócio-ocupacional aceita-se classificar a Fobia Social em dois tipos;

1 - Fobia Social discreta e específica, a qual geralmente é restrita a poucas situações sociais, como por exemplo, o medo de falar em público. Esse tipo leve de fobia é classificada pelo DSM-IV como Fobia Social não Generalizada.

2 - Fobia Social Complexa ou Fobia Social Generalizada, mais grave e abrangente que a anterior. Trata-se de uma forma de Fobia Social muito mais limitante e de longa duração. Corresponde à grande maioria dos casos.

Critérios do DSM.IV para diagnóstico de Fobia Específica

Medo acentuado e persistente, excessivo ou irracional, revelado pela presença ou antecipação de um objeto ou situação fóbica (por ex., voar, alturas, animais, injeção, ver sangue).


A exposição ao estímulo fóbico provoca, quase que invariavelmente, uma resposta imediata de ansiedade, que pode assumir a forma de um Ataque de Pânico ligado à situação ou predisposto pela situação. Nota: Em crianças, a ansiedade pode ser expressa por choro, ataque de raiva, imobilidade ou comportamento aderente.


O indivíduo reconhece que o medo é excessivo ou irracional. Nota: Em crianças, esta característica pode estar ausente.


A situação fóbica (ou situações) é evitada ou suportada com intensa ansiedade ou sofrimento.


A esquiva, antecipação ansiosa ou sofrimento na situação temida (ou situações) interfere significativamente na rotina normal do indivíduo, em seu funcionamento ocupacional (ou acadêmico) ou em atividades ou relacionamentos sociais, ou existe acentuado sofrimento acerca de ter a fobia.


A ansiedade, os Ataques de Pânico ou a esquiva fóbica associados com o objeto ou situação específica não são mais bem explicados por outro transtorno, como por exemplo, Transtorno Obsessivo-Compulsivo (por ex., medo de sujeira em alguém com uma obsessão de contaminação), Transtorno de Estresse Pós-Traumático (por ex., esquiva de estímulos associados ao estressor que causou o problema), Transtorno de Ansiedade de Separação (por ex., esquiva da escola), Fobia Social (por ex., esquiva de situações sociais em vista do medo do embaraço), Transtorno de Pânico Com Agorafobia ou Agorafobia Sem História de Transtorno de Pânico.


Para a Fobia Social o DSM.IV sugere os seguintes critérios:

Critérios do DSM.IV para diagnóstico de Fobia Social

A: Temor persistente e acusado a situações sociais ou a atuações em público por medo de resultar em embaraços.

B: A exposição a esses estímulos produz quase invariavelmente uma resposta imediata de ansiedade.

C: A pessoa reconhece que esse medo é excessivo ou irracional. Obs: Isso pode não acontecer nas crianças.

D: Há evitação das situações sociais ou das atuações em público mesmo que as vezes se possa suportar com extremo temor.

E: Esta evitação ou ansiedade interfere marcantemente na rotina diária da pessoa.

G: A evitação não se debve a efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou de uma enfermidade médica, bem como não pode ser explicada pela presença de outro transtorno mental (ex. Trastorno de Ansiedade de Separação).

Comorbidade com Depressão
Versiani e Nardi (1994) observaram, nos pacientes com Fobia Social, uma alta freqüência de quadros depressivos, como a Depressão Maior, presente em 29,6% dos casos e a Distimia, em 18,4% (Tabela 3). Há autores que encontraram 38% de Depressão co-mórbida em pacientes com Fobia Social, assim como 35% relatados por Stein e cols (1996). De forma inversa, entre os pacientes com Transtornos Depressivos, os distímicos apresentavam Fobia Social em 27% dos casos e 15% dos portadores de Depressão Maior também tinham esse tipo de fobia (Sanderson e cols., 1990).

De fato, os pacientes deprimidos costumam restringir suas atividades sociais por causa da perda de interesse, de prazer ou de disposição e não, exatamente, dos sintomas ansiosos ou fóbicos. Mas existem autores que relatam a presença de sintomas depressivos em até 50% dos pacientes com Fobia Social. A comorbidade entre Fobia Social e Depressão fica mais claramente visível na medida em que esses quadros respondem muito bem ao tratamento com antidepressivos. Da mesma forma em que a Depressão Maior costuma ser freqüente na Fobia Social, precisa-se investigar também a presença dessa fobia em pacientes que se apresentam com quadro depressivo.

Tabela 3 - Características clínicas de uma amostra de 250 fóbicos sociais primários*

Idade média - anos:

42,8 (9,3)


Sexo (%):
Masculino
74,0
feminino
26,0

Educação (%):
Universitário
68,4
2o. Grau
31,6

Subtipo da fobia (%):
Generalizada
68,0
Circunscrita
32,0

Duração média - anos:
20



Idade média de início -anos:
14,7



Comorbidade (%)
Ansiedade Generalizada
17,2




Distimia
18,4




Transtorno de Pânico
11,2




Depressão Maior
29,6




Abuso de Álcool
24,0




Person. Esquiva
60,0




Person. Dependente
5,2



* Nardi, 2001

A Fobia Social é atualmente reconhecida como um transtorno bastante limitante mas, mesmo assim, a expressiva maioria dos pacientes não procura tratamento médico. Talvez seja mais convincente propor tratamento tomando por base a Depressão, que ocorre com grande freqüência nos pacientes com Transtornos de Ansiedade, particularmente nos fóbicos.

A Personalidade do Fóbico
Recentemente pode-se suspeitar que os fóbicos, de maneira geral, tendem a apresentar alguns traços de personalidade em comum. Normalmente, são pessoas que tiveram uma educação rígida, estimuladora da ordem, da conseqüência e do compromisso.

São pessoas excessivamente preocupadas com o julgamento alheio, com a opinião dos outros a seu respeito, são perfeccionistas e determinados. Com essas características os portadores de fobia costumam ter alto senso de responsabilidade, bom desempenho profissional e avidez pelos desafios da vida social.

Mas a origem da fobia ainda é misteriosa, concorrendo para tal, desde a herança genética dos traços ansiosos da personalidade, até a aprendizagem das reações diante do perigo, passando pelas alterações dos neurotransmissores.

Geneticamente já se sabe que os filhos de pais fóbicos têm 15% de possibilidade de perpetuar o comportamento na idade adulta. A medicina sabe também que, entre as pessoas com traços de timidez na personalidade, 2% vai desenvolver Fobia Social no decorrer da vida.