quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Arteterapia


De acordo com escritos freudianos, as imagens escapam com mais facilidade do superego do que as palavras, alojando-se no inconsciente e por este motivo o indivíduo expressa-se melhor de forma não verbal. A necessidade da comunicação simbólica origina-se deste pressuposto, como forma de auto-conhecimento no tratamento terapêutico.

No volume XI de Obras Completas de Freud, o mesmo relata que freqüentemente experimentamos os sonhos em imagens visuais, sentimentos e pensamentos; sendo mais comum na primeira forma. E parte da dificuldade de se estimar e explicar sonhos, deve-se à dificuldade de traduzir essas imagens em palavras. Muitas vezes, quando as pessoas sonham, dizem que poderiam mais facilmente desenhá-los que escrevê-los.

O recurso da arte aplicado à psicopatologia originou-se quando Jung passou a trabalhar com o fazer artístico, em forma de atividade criativa e integradora da personalidade. ”Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida.” ( Jung, 1920 )

1 Conceitos.

Variados autores definiram Arteterapia, todos com conceitos semelhantes ao que diz respeito à auto-expressão.

É a arte ilimitada unida ao processo terapêutico, que transforma a Arteterapia em uma técnica especial.

A Arteterapia resgata o potencial criativo do homem, buscando o psique saudável e estimulando a autonomia e transformação interna, para reestruturação do ser.

Partindo do princípio, de que muitas vezes não consegue-se falar de conflitos pessoais, a Arteterapia possui recursos artísticos para que sejam projetados e analisados, todos esses processos, obtendo uma melhor compreensão de si mesmo, e podendo ser trabalhado no intuito de uma libertação emocional.

É através da expressão artística que o homem consegue colocar seu verdadeiro self da maneira mais pura e direta que possa existir.

2 Objetivos

Uma obra de arte, consegue por si só, transmitir sentimentos como alegria, desespero, angústia e felicidade, de maneira única e pessoal, relacionadas ao estado espiritual que encontra-se o autor no momento da confecção.

A Arteterapia tem como objetivo, favorecer o processo terapêutico, de forma que o indivíduo entre em contato com conteúdos internos e muitas vezes inconscientes, que foram barrados por algum motivo expressando assim sentimentos e atitudes, até então desconhecidos.

A utilização de recursos artísticos (pincéis, cores, papéis, argila, cola, figuras, desenhos, recortes, ...) tem como finalidade, a mais pura expressão do verdadeiro self, não se preocupando com a estética, e sim com o conteúdo pessoal implícito em cada criação e explícito como resultado final.

As técnicas de utilização dos materiais, acima citados, são para simples manuseio dos mesmos, e não para profissionalização ou comercialização.

A busca da terapia da arte, é uma maneira simples e criativa para resolução de conflitos internos, é a possibilidade da catarse emocional de forma direta e não intencional.

As linguagens plásticas, poéticas e musicais dentre outras, podem ser mais adequadas à expressão e elaboração do que é apenas vislumbrado, ou seja complexidade implica na apreensão simultânea de vários aspectos da realidade. Esta é a qualidade do que ocorre na intimidade psíquica; um mundo de constantes percepções e sensações, pensamentos, fantasias, sonhos e visões, sem a ordenação moral da comunicação verbal do cotidiano.

Propõe-se então, a estruturação da ordenação lógica e temporal da linguagem verbal, de indivíduos que preferem ou de outros que só conseguem expressões simbólicas.

De acordo com o pensamento junguiano, deve-se observar os sonhos, pois são criações inconscientes que o consciente muitas vezes consegue captar, e que junto ao terapeuta, pode-se buscar sua significação.

Para Jung, a arte tem finalidade criativa, e a energia psíquica, consegue transformar-se em imagens e através dos símbolos, colocar seus conteúdos mais internos e profundos.

O valor dos materiais

O estudo detalhado do material é muito importante em Arteterapia. Cada um em particular, tem propriedades que mobilizam emoções e sentimentos de maneiras diversificadas a cada indivíduo.

É necessário que o terapeuta analise o valor terapêutico do material para cada cliente, pois podem penetrar de maneira mais rápida e em particular nos conflitos internos e inconscientes do indivíduo.

1 Desenho

Podem ser utilizados o giz de cera, pastel a óleo, pastel seco, lápis de cor, lápis de cor aquarelado, hidrocor, carvão e lápis grafite. Todos tem significado terapêuticos semelhantes.

No desenho, a coordenação motora fina é bastante trabalhada, portanto o controle é essencial, não só o motor, mas principalmente o intelectual. A atenção, a concentração e o contato com a realidade são explorados.

O desenho de cópia, enfoca a atenção na realidade exterior, e é indicado em pessoas que fantasiam, sonham, obrigando-as a perceber e reproduzir a realidade tal como ela é. A imensa dificuldade que encontram em reproduzir, não é só o medo de errar, é a própria dificuldade de dar direcionamento em sua vida. É indicado para pessoas dispersas, sonhadoras, confusas e adolescentes.

No desenho livre, as pessoas entram em contato com sua realidade interna, deixando fluir conteúdos que estejam ao ponto de emergir.

Nos desenhos dirigidos, aqueles feitos a partir de um tema que o Arteterapeuta escolhe, os indivíduos entram em contato com sua realidade, mobilizando emoções bloqueadas que precisam vir à tona. Indicados para pessoas deprimidas, com tônus vital rebaixado.

Quando preferimos os desenhos monocromáticos, trabalhamos com emoções superficiais, a nível periférico; e quando utilizamos o colorido, lidamos com os profundos.
Não é necessária análise do desenho, e sim a análise da interpretação do indivíduo com relação ao feito.

2 Pintura

Quando a pintura flui, fluem ali, emoções e sentimentos. A esfera afetivo emocional está mais abrangente, pois as pinceladas lembram o fluxo respiratório, a vida. As tintas geralmente utilizadas são: guache, aquarela, anilina, óleo, acrílica e nanquim.
A tinta guache exige maior controle de movimentos, libera emoções e incentiva a imaginação.

A aquarela, devido a sua leveza, e o uso obrigatório da água, mobiliza ainda mais o lado afetivo. Indicada para pessoas muito racionais e com dificuldade afetiva. Contra indicada para deprimidos.

Devido a dificuldade de fazer figuras por ser muito aguda, a anilina é ótima para pessoas que tem medo de perder o controle das coisas.
A tinta óleo, é recomendada para pessoas com depressão, pois possibilita maior equilíbrio da situação.

O nanquim, quando puro é de fácil controle, mas exige agilidade e sensibilidade. Quando usado com água, é mais fluída, exigindo muito mais habilidade, atenção e concentração.

Quanto mais expressão, mais auto - conhecimento e mais autoconfiança. A pintura, assim como o desenho, pode ser livre, de cópia, ou dirigida.
Com a pintura, trabalha-se a estruturação e a área afetiva emocional, chegando ao equilíbrio das emoções. E quanto mais diluída for a tinta, mais emocional é o resultado.

3 Modelagem

A modelagem pode ser feita com massa caseira, argila, cera de abelha, plasticina, papel machê e massa de modelar.

O efeito da modelagem atua nas sensações físicas e viscerais, como também no sentimento e cognição. A técnica exige uma canalização de energia adequada, por partir do nada para a criação de algo podendo ser livre ou dirigida.

A sensação de estar em contato com o barro, pode ser muito gratificante ou não. A argila age como transformadora, de um estado de desencontro para um estado de equilíbrio, podendo trazer à tona conflitos internos indesejáveis. Por ser moldável, integra o ser com o mundo exterior, mostrando-o que pode adaptar-se às situações, sendo fluida, recebe projeções e é dominada, favorecendo ao manipulador, a libertação das tensões, fadigas e depressões, pois é um material vivo e de ação calmante.

No físico, trabalha questões ligadas a estruturação e coordenação motora. No emocional mobiliza sentimentos e emoções primitivas, para que possam ser conhecidas e trabalhadas.


Nos casos de negação e resistência à argila, oferta-se o papel machê ou a massa de farinha de trigo, pois de início não devemos forçar, e com a adaptação a estes recursos, aos poucos inclui-se o barro.

O papel machê é um material frio e viscoso, mas que também nos oferece retornos, pois podemos moldá-lo e criar, não chegando aos efeitos da argila, por não ser um produto natural primitivo.

A massa de farinha de trigo, é feita pelo próprio terapeuta, com ou sem ajuda do paciente, variando cores. E ao contrário do papel machê, é utilizada estando morna, para melhor manuseio. Em termos terapêuticos, pode levar os adultos, a recordações maternas, ou da infância. Proporciona também a capacidade criadora, auto-estima, catarse emocional, auto-confiança.

4 Sucata

O trabalho com a sucata estimula a reconstrução, a criatividade, as percepções, a atenção, a construção, a transformação, o concreto e a mudança.

É um material transformador, pois dá-se uma nova utilidade ao que antes era lixo. É a mudança através do concreto, é a busca de possibilidades de transformação e do reaproveitamento.

Por poder aliá-lo a pintura, a colagem e a modelagem, é uma atividade rica e complexa, que mobiliza o conteúdo interno, e já transforma-o, reaproveitando-o de forma benéfica. O terapeuta deve ficar atento, para que nenhum detalhe escape, pois é um trabalho de muita sutileza.

Materiais diversos devem ser utilizados ( plásticos, vidros, papéis, madeira, tecidos) de forma livre ou dirigida.

5 Colagem

É uma atividade estruturante que pode ser realizada com materiais diversos: recortes de revistas, jornais, pedaços de papéis coloridos, diversos grãos, serragem, cortiça, purpurina, tecidos...

Nesta atividade, o cliente busca nos materiais, idéias que possam expressar e comunicar seus sentimentos, emoções e idéias em relação ao tema. O planejamento, o direcionamento, e a atenção do paciente, ajudam na estruturação de sua vida.

É um recurso rico, pois o indivíduo planeja, analisa, fica atento, concentrado, organizado e paciente.









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