sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A Psicologia e o Teatro


Desde suas origens, o teatro cumpre uma função a maior do que a de produção de obras de arte e fruição estética. Como experiência religiosa ou purificadora, o povo grego inaugurou, no ocidente, um modo de comunicação, uma linguagem, que poderia ser empregada de muitas formas, por muitas culturas, com variados propósitos. Há, desde muito, a aposta de que o teatro é capaz de modificar as pessoas. Para além dos usos pedagógicos, nos quais esta mudança é justamente o pretendido – e aqui nos remetemos tanto ao teatro catequético jesuítico no Brasil colônia quanto à peça didática em Brecht, entre outras manifestações –, a compreensão do efeito catártico do teatro nunca perdeu sua força. A formulação aristotélica é retomada por Freud em diversos textos sob o argumento de que, ao assistir um espetáculo, o neurótico – e exclusivamente ele – fruiria da realidade ilusória por deparar-se com seu desejo na pele de outrem, ou seja, sem ter que passar pelos mesmos riscos e privações a que este personagem está submetido, ao mesmo tempo em que se depara com suas resistências: o teatro possibilitaria a própria manifestação do inconsciente.
Das muitas interseções possíveis e já-feitas entre teatro e psicologia, podemos observar, por um lado, uma “psicologização do teatro”, como a operada pela estética de Stanislavsky, ou uma “teatralização da psicologia”, como os usos terapêuticos de representações teatrais, com Moreno como principal expoente. Estas produções, apesar dos riquíssimos desenvolvimentos que levaram a cabo em seus meios, também encontraram seus limites, ancorados nas polaridades existentes entre a experiência de espectador passivo da obra, ou de ator da cena da própria vida.

Para mim, a superação parece residir na possibilidade de experimentarmos ser "atores de outras vidas". Nao é isso a experiência clínica: surpreender-se com as ficções que contamos como se estivéssemos falando de nós mesmos?
Diogo Boccardi

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